quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Seu Zé - Festival do Desconcerto

Banda porreta de Natal. Não tem nada a ver com o renascimento anualmente programado do menino Jesus. Natal do Rio Grande do Norte. Certo? Para facilitar, antes do disco vai um mapa do Brasil para ajudar algum perdido a se localizar.


















Agora sim, o disco. Downloadeie- o.

Vanguart

Disco de estréia da banda de Cuiabá.






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quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Idéia Fixa Revisitada

Tinha tudo para ter nascido como um dia qualquer. Acordei ao mesmo horário, da mesma forma e contra a mesma vontade de sempre. Fiz o que tinha que fazer relacionado às higienes matinais obrigatórias de todos os dias, inclusive com inegável surpresa cedi ao imperativo de me render a uma das que mais sinto relutância, que é passar o fio dental. Não tomei café, como também de costume, e saí. Foi pouco depois disso que fui interrompido na minha caminhada por um lampejo. Estaquei imediatamente. Olhei para os lados, teimando o movimento da cabeça contra o maldito torcicolo que custava a sarar espontaneamente, mas não vi sinal algum de nuvem, tampouco de qualquer coisa que pudesse sugerir a probabilidade de uma tempestade, sequer de uma garoa. Então, só poderia ter sido auto-organicamente-produzido, o que eu fui constatar que sim, posteriormente.

Tal qual a idéia fixa que assolou e levou Brás Cubas à morte, aquele clarão que eu jurava ter visto tinha a força de beijo roubado e vinha acompanhado daquela sensação de sobressalto, comum quando a gente decide resgatar da poeira e da inutilidade aquele calçado velho que há anos não usamos e somos surpreendidos com a dor causada pela picada do inseto que dali tinha feito sua morada.

Confesso que, a despeito da força intensa com a qual aquele pensamento havia me abatido, ele ainda estava muito difuso, confuso, diluído. Não bastasse o desconcerto que de imediato tinha me causado, este sentimento ainda me forçaria a um trabalho mental exaustivo – dada a minha inata intelectual-laboriosa preguiça -, cuja perspectiva de sucesso como resultado não era das mais animadoras.

Normalmente, em situações como estas, eu seria facilmente tragado pelo peso da contingência da rotina laborial e postergaria o esforço “decifratório” a que aquela sensação me tinha condenado. No entanto, fui tomado por uma necessidade incomum de sair correndo, dobrando as esquinas às cegas sem me importar para onde estava indo. Nem ao menos me importei com as pessoas com as quais trabalho. Qual é? Estava passando por um momento importante, não ia desviar minha atenção para algo como meu trabalho. Isso eu fazia todos os dias sem pensar. Qualquer coisa, depois do arrebatamento e de recuperar o fôlego era só ligar ao escritório e informar com um falso pesar na voz de que iria me atrasar, mas que não tardaria muito.

Só quando, de fato, parei foi que percebi que o que antes tinha sido um clarão, começava a se concentrar em uma forma de luz mais distinguível, o que era difuso, diluído era como que atraído por uma força concêntrica que o condensava e o dava contornos mais nítidos. Comecei pouco a pouco a compreender o sentido de tudo. Absorto em meus pensamentos, não tinha de todo, porém, parado de caminhar a esmo.

Os contornos foram gradativamente se definindo e eu já antevia o resultado, eu já percebia de antemão que o que me sobressaltara era uma constatação, o resultado de uma avaliação involuntária autoprovocada da minha vida que me forçaria a tomar uma atitude drástica. É claro, porque, até aquele momento, minha vida não tinha sido digna de nenhuma narração. Embora jovem, não tinha passado por nenhuma verdadeira crise, por nenhum verdadeiro e absoluto abatimento, por nenhuma profunda dor. Os momentos de alegria eram banais, como de todo mundo. Era como se ao nascer me fosse dado o impulso inicial e eu fosse percorrendo os anos da minha vida como se deslizasse por uma superfície não perfeitamente lisa, com pequenos acidentes e leves rugosidades, por certo, mas mesmo assim o que contava mais nisso eram os adjetivos e não os substantivos. Sem dificuldades, com relativos sucessos e sem muitos esforços tinha até ali avançado algumas unidades de medida na linda da vida. Nem mesmo uma grande paixão me arrebatara para que me entregasse de todo a ponto de matar dragões e avançar sobre um rebanho qualquer de cabras.

Foi envolvido nesses pensamentos que tomei a decisão que iria mudar minha vida. Tinha definitivamente firmado um propósito e a ele seguiria até o fim. Como sinal que expressasse a minha decisão e também como uma forma de provocação a mim mesmo, estaquei da mesma forma que tinha feito quando do aparecimento do clarão, como que para informá-lo de que ele já poderia submergir para o lugar de onde tinha vindo, pois o seu propósito tinha sido, afinal, um sucesso. Bati um pé no chão como se estivesse nele fincado o pé. Foi quando me dei conta de que realmente tinha andado esse tempo todo em que refletia, e me encontrava - agora sim reconhecia - exatamente no meio de uma rodovia e que pela minha esquerda e diretamente sobre mim vinha o carro dirigido por um motorista que, mesmo insone, havia cochilado no exato momento em que me jogava já sem vida contra a proteção lateral da estrada.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Terminal Guadalupe - A Marcha dos Invisíveis

A pedidos!!!!





Tenha a bondade. Por aqui.

"Mea Culpa", não senhor!!!

Caríssimos,

devo-lhes uma satisfação, não porque ache que mereçam-na, mas porque sou detentor provisório de uma alma bondosa e prestimosa, embora tenha que admitir que há quem duvide disso. Refiro-me ao direito de posse sobre algo imaterial como a alma e não às qualidades posteriormente a ela adicionadas. Disso não há qualquer dúvida. Prosseguindo. O fato de há tanto tempo meus fiéis visitantes não serem presenteados com novas postagens ou não se deleitarem com algum textinho novo se deve basicamente a dois motivos. O primeiro, por ordem de chegada e não de importância, é a minha inata e posteriormente adquirida indolência, que, se associada à chegada de minhas merecidas férias, justificaria a minha ausência deste sítio internáutico. A segunda, refere-se à proibição, por parte do hospedeiro deste blog, de postar novas mensagens. Estava impedido até hoje de provisionar-vos com novos e bons downloads ou novos e bons textos, ou qualquer coisa de bom e novo, pois é o que não falta neste endereço.
O segundo motivo, como já deve ter ficado claro ao menos perspicaz dos leitores, já está resolvido. Felizmente, a denúncia de que meu blog estaria praticando a malvadeza do "anti-spam" foi verificada e a ela dada o estatuto de uma inverdade sem tamanho. Entretanto, o segundo motivo infelizmente a diretoria do hospedeiro do blog não tem poder de reverter. De modo que, aos que estão acostumados com as baboseiras que deixo aqui para a execração pública não devo mais nenhuma infundada justificação, pois que se acostumem de uma vez; àqueles não o visitam, naturalmente, tampouco.
Para terminar, sinto a necessidade de informá-los que em breve retornarei à função que me foi destinada, estarei novamente postando interesses comuns e alheios. Falta pouco para que minha indolência dê sinais de trégua. Até lá satisfaçam-se com esta invertida "mea culpa".

Saudações sinceras,

Alifanfarrão.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Arnaldo Antunes - Saiba





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Arnaldo Antunes - Ao Vivo em Estudio 2007





Downloadeie (corrigido)

Arnaldo Antunes - Paradeiro





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Humberto de Campos - O Fiolósofo

Educado no Colégio Caraça, o coronel Venâncio Figueira, fazendeiro em Uberaba, havia se contaminado, pouco a pouco, de filosofia e de latim, de modo a preocupar-se, mais do que o necessário, com os graves problemas da vida. Manuseador quotidiano de certos autores profanos, ele se punha, às vezes, a pensar, no alpendre da sua casa de fazenda:

- Sim, senhor! Esses filósofos têm razão! Este mundo é tão desigual, tão cheio de injustiças, de irregularidades clamorosas, que qualquer mortal, encarregado de fazê-lo, o teria feito melhor!

E acentuava, melancólico:

- Este mundo está muito mal feito!...

À noite, porém, reunida a família na sala de jantar, o velho fazendeiro arreganhava os óculos no nariz, tomava a "Bíblia", chegava para mais perto o lampião de querosene, e punha-se a ler, pausado, o "Livro de Jó". E começava, de novo, a meditar, diante destas palavras do capitulo 38:

"4. Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência.

"25 - Quem abriu para a inundação um leito, e um caminho para os relâmpagos e trovões?

"41 - Quem prepara aos corvos o seu alimento, quando os seus filhotes implumes gritam a Deus, e andam vagueando por não terem de comer?"

Certo dia, dominado pelas idéias reacionárias bebidas em autores modernos, passeava o coronel pelo pátio da fazenda, quando, ao ver as andorinhas que voejavam por cima do gado, voltou novamente a raciocinar:

- É isso mesmo, não há duvida! O mundo é muito mal arranjado. Aqui está, por exemplo; este boi. Porque, tendo ele chifres, patas, orelhas, e sendo tão forte, há de viver sempre na terra, a arrastar-se pelo solo, quando aquela andorinha, que não tem nada disso, se locomove, rápida, ligeira, dominando os ares?

Nesse momento, porém, uma andorinha que lhe passava por cima, deixou escapar alguma cousa que lhe fazia sobrecarga, e que foi cair, certeira, na cabeça descoberta do coronel. Este levou a mão instintivamente à calva, e, olhando os dedos brancos daquela indignidade, caiu de joelhos, clamando, arrependido:

- Perdoai-me, Senhor, perdoai-me! O mundo está muito bem organizado! O que nele há, o que nele vive, o que nele existe, foi feito com perfeição, com acerto, com sabedoria!

E levantando-se, limpando a mão:

- Imagine-se que fosse um boi....