quinta-feira, 20 de novembro de 2008

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Latuya - Alegorias Gratuitas

"Consonâncias e dissonâncias plasmam-se num mesmo veio: guitarra-baixo-bateria-trompete por onde reverberam ecos de rock, samba e jazz, rasgando amor em lâmina afiada, em versos de samba-canção. Certeiras são as intromissões, de sons latinos, ou de "Fábulas", aí onde a dor cega marca a trajetória desse grupo carioca.

Mas, afinal, a que veio Latuya? Se não é por partidas e chegadas que se guia o magma de qualquer arte, mas em travessia, descaminhos das batidas, notas, palavras.

Latuya, latinacortante, demonstra toda a gana de uma banda que surge para marcar presença, com talento, rebeldia, persistência; não para ser astro raso de quinze minutos de fama.

"Mismo que su corazón sea un hijo de la madre tristeza."

Leonardo Vieira de Almeida







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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Estou lendo: A Teoria da Alienação em Marx

"Marx é acusado, com frequência, de ´determinismo econômico´. Supõe-se que ele tem a ingênua idéia segundo a qual a economia determina, mecanicamente, todos os aspectos do desenvolvimento. Não é preciso dizer que tais acusações não podem ser levadas a sério. Pois - como já dissemos - na visão de Marx o primeiro ato histórico do homem é a criação de sua primeira necessidade nova, e nenhuma determinação mecânica pode explicar isso. Na concepção dialética de Marx o conceito-chave é a ´atividade humana produtiva´, que nunca significa simplesmente "produção econômica". Já desde o princípio ela é muito mais complexa do que isso, como de fato indicam as referências de Marx à ontologia. Defrontamo-nos aqui com uma estrutura extremamente complicada, e as afirmações de Marx sobre a significação ontológica da economia só serão compreendidas se forem capazes de apreender a idéia marxiana das múltiplas mediações específicas, nos mais variados campos da atividade humana, as quais não são simplesmente ´construídas sobre´ uma base econômica, mas também estruturam esta última, por intermédio de sua estrutura própria enormemente intrincada e relativamente autônoma. (...) Se a ´desmistificação´ da sociedade capitalista, devido ao ´caráter fetichista´ de seu modo de produção e troca, tem de partir da análise da economia, isso não significa de nenhum modo que os resultados dessa investigação econômica possam ser simplesmente transferidos para outras esferas e níveis. (...)

Evidentemente, o ´determinismo econômico´ nega a inter-relação dialética de temporalidade e atemporalidade, de descontinuidade e continuidade, de história e estrutura. Opõe à concepção dialética marxiana um modelo mecânico no qual uma estrutura atemporal de determinações prevalece. (Alguns dos chamados ´marxistas estruturalistas´, com sua rejeição antidialética do ´historicismo´, são representativos do ´determinismo econômico vulgar´, com um disfarce ´estruturalista´ culturalmente em moda. Foi essa velha tendência do ´determinismo econômico vulgar´ que levou Marx a dizer, há muito tempo: ´Eu não sou marxista´.) O conceito de mediações complexas está ausente da visão dos deterministas econômicos que - ainda que inconscientemente - capitulam ante a ´necessidade econômica cega´ que parece predominar por meio do caráter fetichista do capitalismo, pela alienação e reificação das relações sociais de produção do capitalismo. (As Geisteswissenschaften ["ciências do espírito"] e - mutatis mutandis - suas versões estruturalistas modernas são, quanto à sua estrutura conceitual fundamental, uma forma mistificada de determinismo econômico ´de cabeça para baixo´, na medida em que lhes falta o conceito crucial de mediação. Elas refletem o mesmo tipo de determinações mecânicas diretas sob nomes ´espiritualizados´. Consequentemente, evidenciam uma negação rígida de toda a historicidade, ou então inventam uma pseudo-história do ´espírito´, desprovida das transições e mediações dialéticas objetivas que caracterizam uma genuína exposição histórica. É bastante significativo que alguns ´estruturalistas marxistas´ possam oscilar, com maior facilidade, entre as categorias de Geisteswissenschaften e seus próprios conceitos pseudomarxistas - isto é, conceitos deterministas econômicos vulgares.)"

István Mészáros. A Teoria da Alienação em Marx. pp. 108-109

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ted Gugu e os Espanta Nenem - Tuinal Gardenal

Banda de Maringá muito boa, que faz um "rock ´n punk roll, mother fucker" muito da hora!

Ted Gugu e os Espanta Nenem - July

Banda de Maringá muito boa, que faz um "rock ´n punk roll, mother fucker" muito da hora!

Ted Gugu e os Espanta Nenem - Menina de Família

Banda de Maringá muito boa, que faz um "rock ´n punk roll, mother fucker" muito da hora!

Ted Gugu e os Espanta Nenem - Como você engordou!

Banda de Maringá muito boa, que faz um "rock ´n punk roll, mother fucker" muito da hora!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A Marcha da Insensatez

ESCREVER SOBRE a vulnerabilidade da economia brasileira era uma heresia há poucas semanas. Agora, quase se tornou desnecessário. Desabam as mistificações sobre as nossas blindagens. A fase aguda da crise mal começou e já tivemos de recorrer a um empréstimo de US$ 30 bilhões do Fed (o banco central dos EUA), que dispensou intermediários e passou a operar como emprestador de última instância a bancos centrais vulneráveis. Uma consulta a alguns números da economia brasileira mostra por que entramos na primeira lista de países socorridos, ao lado de México, Coréia do Sul e Cingapura. Desde 2002, mais de 80% do que recebemos do exterior, na forma de saldo comercial, foi enviado de volta, na forma de remessas de serviços e rendas.

O pequeno saldo restante fica longe de explicar o acúmulo de cerca de US$ 200 bilhões em reservas, alardeado como sinal de solidez. A maior parte dessas reservas foi formada com capital externo de curto prazo, atraído ao Brasil pelos juros altos e aqui distribuídos em ativos dotados de elevada liquidez. As reservas brasileiras são a contrapartida de um passivo líquido que, ao se mover, pode reduzi-las a pó. Enquanto o governo comemorava o 'fim da dívida externa', formava-se uma nova dívida mais perigosa.

Esse capital de curto prazo não planta um pé de alface. Ao contrário: ao entrar, valoriza o câmbio e contribui para fragilizar o sistema produtivo. Não faltaram advertências sobre isso. Mas a valorização cambial tinha aliados poderosos: ajudava o BC a atingir as metas de inflação, aumentava as remessas de lucros das empresas multinacionais e permitia gigantescos ganhos aos
especuladores. Passear com recursos pelo Brasil, remunerando- os com a nossa generosa taxa de juros, e remetê-los em seguida para fora, comprando dólar barato, foi o melhor negócio do mundo nos últimos anos.

Enquanto isso, a nossa pauta de exportações se empobrecia, concentrando- se naqueles produtos em que temos grandes vantagens comparativas - as commodities. Todos sabem que, no longo prazo, isso é perigoso. Porém, um dos subprodutos do ciclo especulativo foi justamente o aumento de preços dessas mercadorias de baixo valor agregado. Nossas exportações estagnaram em quantum, mas cresceram em valor, ocultando temporariamente o problema. Em paralelo, para que os exportadores brasileiros compensassem o câmbio ruim, o BC os estimulou a entrar pesadamente na especulação com moedas. A bolha se disseminou. As advertências de que o arranjo tinha pés de barro foram sistematicamente desqualificadas.

Mesmo com a crise internacional se avolumando desde agosto de 2007, não adotamos salvaguardas. Colheremos os resultados em 2009. As empresas que tiveram grandes perdas cortarão investimentos. Com a queda nos preços das commodities, o saldo comercial ficará perto de zero. As remessas de recursos ao exterior aumentarão, elevando o déficit externo. O BC adotará políticas recessivas, que provavelmente incluirão um novo choque de juros. Os prejuízos serão repassados ao Tesouro Nacional, contabilizados como déficit público, reforçando o coro favorável a mais uma rodada de cortes em gastos essenciais, como se salários de professores e investimentos em infra-estrutura fossem a causa da crise. É a marcha da insensatez.

O Fed deixará conosco US$ 30 bilhões até abril de 2009, para que possamos segurar a oscilação cambial e acalmar os mercados. O capital de curto prazo, com certeza, entendeu o recado: tem seis meses para ir embora sem maiores perdas. Depois, seja o que Deus quiser.

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CESAR BENJAMIN, 53, editor da Editora Contraponto e doutor honoris causa da Universidade Bicentenária de Aragua (Venezuela), é autor de 'Bom Combate' (Contraponto, 2006). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.

Publicano na Folha de São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2008