quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Modelo para una teoría del conocimiento - Hans Magnus Enzensberger

Aquí tienes una caja,
una caja grande
con una etiqueta que dice
caja.
Ábrela,
y dentro encontrarás una caja,
con una etiqueta que dice
caja dentro de una caja cuya etiqueta dice
caja.
Mira adentro
(de esta caja,
no de la otra)
y encontrarás una caja
con una etiqueta que dice...
y así sucesivamente,
y si sigues así,
encontrarás
tras esfuerzos infinitos
una caja infinitesimal
con una etiqueta
tan diminuta,
que lo que dice
se disuelve ante tus ojos.
Es una caja
que sólo existe
en tu imaginación.
Una caja perfectamente vacía.


terça-feira, 11 de outubro de 2011

A tinta vermelha: discurso de Slavoj Žižek aos manifestantes do movimento Occupy Wall Street

"Não se apaixonem por si mesmos, nem pelo momento agradável que estamos tendo aqui. Carnavais custam muito pouco – o verdadeiro teste de seu valor é o que permanece no dia seguinte, ou a maneira como nossa vida normal e cotidiana será modificada. Apaixone-se pelo trabalho duro e paciente – somos o início, não o fim. Nossa mensagem básica é: o tabu já foi rompido, não vivemos no melhor mundo possível, temos a permissão e a obrigação de pensar em alternativas. Há um longo caminho pela frente, e em pouco tempo teremos de enfrentar questões realmente difíceis – questões não sobre aquilo que não queremos, mas sobre aquilo que QUEREMOS. Qual organização social pode substituir o capitalismo vigente? De quais tipos de líderes nós precisamos? As alternativas do século XX obviamente não servem.

Então não culpe o povo e suas atitudes: o problema não é a corrupção ou a ganância, mas o sistema que nos incita a sermos corruptos. A solução não é o lema “Main Street, not Wall Street”, mas sim mudar o sistema em que a Main Street não funciona sem o Wall Street. Tenham cuidado não só com os inimigos, mas também com falsos amigos que fingem nos apoiar e já fazem de tudo para diluir nosso protesto. Da mesma maneira que compramos café sem cafeína, cerveja sem álcool e sorvete sem gordura, eles tentarão transformar isto aqui em um protesto moral inofensivo. Mas a razão de estarmos reunidos é o fato de já termos tido o bastante de um mundo onde reciclar latas de Coca-Cola, dar alguns dólares para a caridade ou comprar um cappuccino da Starbucks que tem 1% da renda revertida para problemas do Terceiro Mundo é o suficiente para nos fazer sentir bem. Depois de terceirizar o trabalho, depois de terceirizar a tortura, depois que as agências matrimoniais começaram a terceirizar até nossos encontros, é que percebemos que, há muito tempo, também permitimos que nossos engajamentos políticos sejam terceirizados – mas agora nós os queremos de volta.

Dirão que somos “não americanos”. Mas quando fundamentalistas conservadores nos disserem que os Estados Unidos são uma nação cristã, lembrem-se do que é o Cristianismo: o Espírito Santo, a comunidade livre e igualitária de fiéis unidos pelo amor. Nós, aqui, somos o Espírito Santo, enquanto em Wall Street eles são pagãos que adoram falsos ídolos.

Dirão que somos violentos, que nossa linguagem é violenta, referindo-se à ocupação e assim por diante. Sim, somos violentos, mas somente no mesmo sentido em que Mahatma Gandhi foi violento. Somos violentos porque queremos dar um basta no modo como as coisas andam – mas o que significa essa violência puramente simbólica quando comparada à violência necessária para sustentar o funcionamento constante do sistema capitalista global?

Seremos chamados de perdedores – mas os verdadeiros perdedores não estariam lá em Wall Street, os que se safaram com a ajuda de centenas de bilhões do nosso dinheiro? Vocês são chamados de socialistas, mas nos Estados Unidos já existe o socialismo para os ricos. Eles dirão que vocês não respeitam a propriedade privada, mas as especulações de Wall Street que levaram à queda de 2008 foram mais responsáveis pela extinção de propriedades privadas obtidas a duras penas do que se estivéssemos destruindo-as agora, dia e noite – pense nas centenas de casas hipotecadas…

Nós não somos comunistas, se o comunismo significa o sistema que merecidamente entrou em colapso em 1990 – e lembrem-se de que os comunistas que ainda detêm o poder atualmente governam o mais implacável dos capitalismos (na China). O sucesso do capitalismo chinês liderado pelo comunismo é um sinal abominável de que o casamento entre o capitalismo e a democracia está próximo do divórcio. Nós somos comunistas em um sentido apenas: nós nos importamos com os bens comuns – os da natureza, do conhecimento – que estão ameaçados pelo sistema.

Eles dirão que vocês estão sonhando, mas os verdadeiros sonhadores são os que pensam que as coisas podem continuar sendo o que são por um tempo indefinido, assim como ocorre com as mudanças cosméticas. Nós não estamos sonhando; nós acordamos de um sonho que está se transformando em pesadelo. Não estamos destruindo nada; somos apenas testemunhas de como o sistema está gradualmente destruindo a si próprio. Todos nós conhecemos a cena clássica dos desenhos animados: o gato chega à beira do precipício e continua caminhando, ignorando o fato de que não há chão sob suas patas; ele só começa a cair quando olha para baixo e vê o abismo. O que estamos fazendo é simplesmente levar os que estão no poder a olhar para baixo…

Então, a mudança é realmente possível? Hoje, o possível e o impossível são dispostos de maneira estranha. Nos domínios da liberdade pessoal e da tecnologia científica, o impossível está se tornando cada vez mais possível (ou pelo menos é o que nos dizem): “nada é impossível”, podemos ter sexo em suas mais perversas variações; arquivos inteiros de músicas, filmes e seriados de TV estão disponíveis para download; a viagem espacial está à venda para quem tiver dinheiro; podemos melhorar nossas habilidades físicas e psíquicas por meio de intervenções no genoma, e até mesmo realizar o sonho tecnognóstico de atingir a imortalidade transformando nossa identidade em um programa de computador. Por outro lado, no domínio das relações econômicas e sociais, somos bombardeados o tempo todo por um discurso do “você não pode” se envolver em atos políticos coletivos (que necessariamente terminam no terror totalitário), ou aderir ao antigo Estado de bem-estar social (ele nos transforma em não competitivos e leva à crise econômica), ou se isolar do mercado global etc. Quando medidas de austeridade são impostas, dizem-nos repetidas vezes que se trata apenas do que tem de ser feito. Quem sabe não chegou a hora de inverter as coordenadas do que é possível e impossível? Quem sabe não podemos ter mais solidariedade e assistência médica, já que não somos imortais?

Em meados de abril de 2011, a mídia revelou que o governo chinês havia proibido a exibição, em cinemas e na TV, de filmes que falassem de viagens no tempo e histórias paralelas, argumentando que elas trazem frivolidade para questões históricas sérias – até mesmo a fuga fictícia para uma realidade alternativa é considerada perigosa demais. Nós, do mundo Ocidental liberal, não precisamos de uma proibição tão explícita: a ideologia exerce poder material suficiente para evitar que narrativas históricas alternativas sejam interpretadas com o mínimo de seriedade. Para nós é fácil imaginar o fim do mundo – vide os inúmeros filmes apocalípticos –, mas não o fim do capitalismo.

Em uma velha piada da antiga República Democrática Alemã, um trabalhador alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que todas as suas correspondências serão lidas pelos censores, ele diz para os amigos: “Vamos combinar um código: se vocês receberem uma carta minha escrita com tinta azul, ela é verdadeira; se a tinta for vermelha, é falsa”. Depois de um mês, os amigos receberam a primeira carta, escrita em azul: “Tudo é uma maravilha por aqui: os estoques estão cheios, a comida é abundante, os apartamentos são amplos e aquecidos, os cinemas exibem filmes ocidentais, há mulheres lindas prontas para um romance – a única coisa que não temos é tinta vermelha.” E essa situação, não é a mesma que vivemos até hoje? Temos toda a liberdade que desejamos – a única coisa que falta é a “tinta vermelha”: nós nos “sentimos livres” porque somos desprovidos da linguagem para articular nossa falta de liberdade. O que a falta de tinta vermelha significa é que, hoje, todos os principais termos que usamos para designar o conflito atual – “guerra ao terror”, “democracia e liberdade”, “direitos humanos” etc. etc. – são termos FALSOS que mistificam nossa percepção da situação em vez de permitir que pensemos nela. Você, que está aqui presente, está dando a todos nós tinta vermelha".

Publicado originalmente no blog da Boitempo em 11/10/2011.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Fazendo arte: é hora de perder a paciência - Mauro Iasi

Aos gritos de “é hora de perder a paciência” os trabalhadores da cultura, membros de coletivos culturais, grupos de teatro, de dança, de música, poetas, pintores, músicos e outros seres míticos e estranhos ocuparam a sede da FUNARTE no último dia 25 de julho de 2011, protestando contra os cortes no orçamento da cultura promovido pelo governo Dilma pelas PECS 150 e 236 que retira deste campo cerca de 2/3 dos recursos atualmente destinados, os já minguados 0,06% dos recursos orçamentários.

Chegaram por lá, entraram e fizeram o que sabem fazer de melhor: arte. Dançaram, cantaram, musicaram, perfomatizaram, poetizaram numa alegria irritante, própria de jovens e artistas, ou seja, gente que não tem nada de mais útil para fazer, tal como produzir mais valia, avançar o crescimento, estudar, comprar coisas e assistir comportados e apassivados aos “bens culturais” na televisão à cabo ou no fast-food da indústria cultural.

A FUNARTE os olhava com um estranhamento compreensível. Como um filho que volta depois de muito tempo e não é reconhecido pelos pais, como um bode diante de um cartaz, como nos falou Maiakóviski, ou na expressão de Leandro Konder comentando certo autor diante de Hegel: como um camelo diante de uma catedral. Uma performance sem projeto, sem verba, sem aprovação, sem mecenas, sem isenção, sem Rouanet, ali feita por seres humanos, bravos e alegres, três elementos sem os quais a arte é impossível.

Mas os impacientes trabalhadores da cultura não ficaram só fazendo arte, sentaram-se em roda e debateram, ouvindo com atenção seus companheiros e mestres, e amigos, enfim, gente que eles respeitam porque são gente, como Iná Camargo, Luis Carlos Moreira, o Daniel Púglia, até o Zé Celso Martinez passou por lá, dizem que o Luis Carlos Scapi estava presente, também falaram o Gilmar Mauro e o Paulino do MST, coisa estranha misturar a arte com a vida e a política, estes caras não podem ver uma ocupação.

A Iná e o Moreira falaram: o que vocês querem? Verba? Querem que o Estado que representa os interesses do capital financie uma cultura que se nega a ser mercantilizada? Em tempos de defensiva como naquele em que vivemos, “qual o papel de nós artistas na construção de um processo que pode culminar num horizonte revolucionário”? Disse Iná.

Que sentido tem fazer arte neste mundo no qual nos encontramos e que não queremos que perdure? Precisamos começar afirmando que a objetivação na forma de arte não tem um sentido em si mesmo, essencial e, portanto, a-histórico. Isso que está aí e que desprezamos, o objeto cultural na forma de mercadoria, ou seja, que para que possamos fruir seu valor de uso temos que realizar seu valor de troca, afinal é ou não é arte?

Afirmar que não é guarda um risco não pequeno de imaginarmos uma essencialidade da arte fora das formas reais de sua manifestação. É arte, arte na forma mercadoria, capturada pelo mercado e submetida à lógica do capital e sua reprodução, material e ideológica. Não há nenhuma essencialidade da arte a ser resgatada de sua prisão mundana que a corrompe. Dizia Marx, em Manuscritos econômico-filosóficos:

“(…) meu objeto só pode ser a confirmação de uma das minhas forças essenciais, portanto só pode ser para mim da maneira como a minha força essencial é para como capacidade subjetiva, porque o sentido de um objeto para mim vai precisamente tão longe quanto vai o meu sentido, por causa disso é que os sentidos do homem social são sentidos outros que não os do não social.”

Aquilo com que nos denfrontamos objetivado numa forma particular de bem cultural (no caso como mercadoria) é, portanto, objetivação de uma de nossas capacidades subjetivas, e nós o vemos como tal. Se é verdade que a música desperta o sentido musical no ser humano, como diz Marx, também é verdade que a mais bela música “não tem nenhum sentido para o ouvido não musical”, assim como para o faminto a comida não tem forma humana (é só culinária e não arte culinária), o comerciante de minerais só vê o valor de troca e não a beleza peculiar do mineral, em suma “a objetivação da essência humana, tanto do ponto de vista prático como teórico, é necessário tanto para fazer humanos os sentidos do homem quanto para criar sentido humano correspondente à riqueza inteira do ser humano natural”.

Vamos tentar entender isso. Ao objetivar um das dimensões de nossa subjetividade, nos humanizamos, mas podemos fazer isso em condições tais que o produto de nossa objetivação social e histórica se volte contra nós de maneira hostil e estranhada (por exemplo, na forma mercadoria), aí nos desumanizamos. O fato é que, se entendemos as pistas de Marx, somos nós que criamos nossa desumanização ao criar e manter as relações que nos desumanizam, mas neste paradoxo esta a chave de sua superação, isto é, como disse o mesmo autor se os seres humanos são produto das circunstâncias é necessário tornar humanas as circunstâncias que nos produzem.

Neste ponto que a afirmação segundo a qual o sentido de um objeto vai tão longe quanto vai o sentido humano que o orienta pode nos ajudar a pensar o papel específico da arte. A arte mercadoria faz sentido, porque reflete na produção artístico cultural o estágio de nossa objetivação histórica, esta merda chamada sociedade capitalista. Mas a arte como parte da práxis pode e deve ir além daquilo que expressa. Lukács, em “Introdução aos estudos estéticos de Marx e Engels”, já nos alertava que a arte sempre luta contra duas correntes aparentemente opostas: de um lado aquela que afirma que arte deve representar fielmente o real e, de outro, aquela que entende a produção artística como um puro jogo da forma, vazia em si mesmo de conteúdo e de relação com o real.

O problema, como já anunciava o mesmo Lukács, é que em época de decadência como a nossa, estas duas tendências tendem a se fundir: a rendição ao real e á pseudoconcreticidade e o domínio das formas num jogo vazio. O que desaparece nesta síntese tão bem descritiva dos descaminhos da chamada pós-modernidade e a construção do humano como humano e seu vir a ser, isto é, a arte como simultaneamente o reflexo de todo nosso desenvolvimento cristalizado nas formas presentes do real em que nos encontramos e os germes que a partir daí no remetem ao futuro pelo jogo de suas próprias contradições.

Neste registro que podemos entender a afirmação marxiana segundo a qual a “educação dos cinco sentidos é um trabalho de toda a história do mundo até aqui” (Marx). Nossas objetivações artísticas não refletem apenas o que somos (ainda que em grande parte o façam), mas o que podemos ser a partir do que somos. Nossa arte que se pretende revolucionária deve expressar, necessariamente, nosso drama de ser de uma ordem mercantil e se levantar contra ela e na defesa da humanidade, entendida como a recriação humana das circunstâncias humanizadas contra e para além da ordem da mercadoria e do capital. Mas, dá para viver disso sem se corromper pagando as contas com poesias?

Mas essa não é uma contradição específica dos artistas. Se não tomarmos cuidado assume a forma de um dilema puramente pequeno burguês, aí pobre de mim que sou poeta e sensível, dividido entre dois mundos, aquele em que vivo e aquele que sonho. Cantemos, então, com Álvaro de Campos:

Coitado do Álvaro de Campos!

Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco
Aquele pobre que não era pobre que tinha olhos tristes por profissão.

Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

(…)

Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma! (Poema “Sou Lúcido” de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa)

Assim somos todos nós, proletários que não temos como viver a não ser vendendo nossa força de trabalho por que nos expropriaram de nossos meios de produção e de expressão. Neste sentido, o que os trabalhadores tem a dizer aos artistas é: bem vindo ao mundo em que nós já estamos faz muito tempo e que vocês se negavam a ver.

O que podemos, então exigir do Estado burguês? Por analogia falemos da educação. Quando Lassale pedia “educação popular geral e igual a cargo do Estado”, Marx (em Crítica ao Programa de Gotha) respondia: “isso de educação popular a cargo do Estado é completamente inadmissível”. E propunha que o necessário seria estabelecer por meio de uma “lei geral”, os recursos para o funcionamento das escolas e capacitação e remuneração dos professores, zelando, entretanto, para “subtrair da escola toda a influência por parte do governo e da Igreja”, e completava: não queremos o Estado como educador do povo. Algo assim deveríamos exigir para que possamos viver (e pagar as contas) como trabalhadores da cultura, produzindo arte nesta sociedade e contra ela.

Por fim, tenho um agradecimento a fazer: meu poema “Quando os trabalhadores perderem a paciência” (publicado em Meta amor fases, São Paulo: Expressão Popular, 2011), virou palavra de ordem nas bocas impacientes daqueles que vivem para a cultura e são trabalhadores. Para um poema que saiu da vida, voltar a ela pelas mãos de quem luta é a melhor homenagem. Obrigado.

Sugestões de leitura:

MARX, K. Crítica ao Programa de Gotha [1875]. São Paulo: Boitempo, no prelo.

_________. Manuscritos Econômicos-Filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004.


LUKÁCS, G. Introdução aos estudos estéticos de Marx e Engels. In: Arte e Sociedade: escritos estéticos 1932-1967. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2009.

Publicado originalmente no blog da Boitempo em 05/10/2011.


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Quando os Trabalhadores Perderem a Paciência

As pessoas comerão três vezes ao dia
E passearão de mãos dadas ao entardecer
A vida será livre e não a concorrência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Certas pessoas perderão seus cargos e empregos
O trabalho deixará de ser um meio de vida
As pessoas poderão fazer coisas de maior pertinência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

O mundo não terá fronteiras
Nem estados, nem militares para proteger estados
Nem estados para proteger militares prepotências
Quando os trabalhadores perderem a paciência

A pele será carícia e o corpo delícia
E os namorados farão amor não mercantil
Enquanto é a fome que vai virar indecência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Não terá governo nem direito sem justiça
Nem juizes, nem doutores em sapiência
Nem padres, nem excelências

Uma fruta será fruta, sem valor e sem troca
Sem que o humano se oculte na aparência
A necessidade e o desejo serão o termo de equivalência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Depois de dez anos sem uso, por pura obscelescência
A filósofa-faxineira passando pelo palácio dirá:
“declaro vaga a presidência”!