Quem - durante os anos em que esteve sentado nos bancos escolares - nunca teve que se sujeitar à primeira tarefa do início dos anos letivos quer era escrever uma redação de como tinham sido suas férias? Se bem se lembram, quando éramos crianças, poucos de nós se viam constrangidos por excessiva timidez e desembestávamos a falar tão logo percebíamos que nos queriam ouvir, especialmente se isso significava participar do "mundo dos adultos", que nos vendiam como sendo especialmente misterioso por ser repleto de assuntos aos quais tínhamos aesso restrito. Top Secret. De um ponto de vista oficial-pedagógico, essas redações eram maneiras que as bem treinadas "tias" usavam para nos estimularem a exercitar o pensamento abstrato, a escrita e a valorização da tradição de "contar histórias". Do ponto de vista do cotidiano escolar, no entanto, era uma maneira poucas vezes eficaz de tentar direcionar nosso ímpeto comunicativo na relação concentrada do pensamento solitário em confronto com a folha de papel em branco. Apesar de tudo, a redação de início de ano era sempre o momento em que podíamos demonstrar a todos a capacidade que cada um tinha em divertir-se longe da escola sem esconder a ansiedade de voltar a ela rapidamente e contar a todo mundo suas próprias peripécias veranistas.
Mas não era isso que eu queria falar. Eu queria escrever, na verdade, sobre uma outra pergunta que sempre vinha em nossa mente a cada início de ano e que, se não a expressávamos verbalmente, tinha sempre um colega mais bocudo que a lançava ameaçadoramente ao professor responsável: afinal de contas, para que estudar História? Para que saber de um bando de povos do passado que já estão mortos se eu estou vivo e tenho que cuidar da minha vida no hoje e no agora? Quem nunca se fez essas perguntas ou nunca as ouviu serem proferidas pelos mais abusados?
Sem querer responder exaustivamente a estas perguntas, há curiosidades a respeito deste tema que gostaria de compartilhar com os efêmeros e desavisados visitantes deste desnecessário e gratuito blog. A história da linguagem - também conhecida como etimologia - nos reserva descobertas interessantes a respeito de alguns termos que usamos cotidianamente sem nos darmos conta dos possíveis significados encobertos que eles carregam em si.
Leandro Konder (filósofo brasileiro) escreve em seu livro "A Questão da Ideologia" alguns exemplos curiosos das origens de algumas palavras:
Sem querer responder exaustivamente a estas perguntas, há curiosidades a respeito deste tema que gostaria de compartilhar com os efêmeros e desavisados visitantes deste desnecessário e gratuito blog. A história da linguagem - também conhecida como etimologia - nos reserva descobertas interessantes a respeito de alguns termos que usamos cotidianamente sem nos darmos conta dos possíveis significados encobertos que eles carregam em si.
Leandro Konder (filósofo brasileiro) escreve em seu livro "A Questão da Ideologia" alguns exemplos curiosos das origens de algumas palavras:
- palavra "maluco" é uma derivação da palavra "Molucas", que é uma ilha invadida pelos portugueses no século XVI e cujos habitantes expulsaram os navegadores lusitanos à pauladas. Já naquela época os portugueses sofriam de uma certa lentidão no seu processo de compreenssão e não entenderam de pronto que sua suposta superioridade civilizatória são seria alcançada sem resistência; por isso, trataram os habitantes de Molucas como loucos, ou melhor, malucos.
- No império romano, as comunidades que se formavam afastadas das cidades eram conhecidas como "vilas" e seus moradores eram tidos como rústicos e grosseiros. As palavras "vilão" e "vilania" são derivações de "vila" e expressam o desprezo que os "cidadãos" tinham com relação aos homens do campo. Este mesmo desprezo pelo "popular" pode ser verificado em relação à palavra povo, que em latim é "vulgus" donde deriva a palavra "vulgar"; ou em relação ao povo reunido, que em latim é "turba", donde vêm "perturbar" e "turbulência";
- Também em latim, deixar-se ensinar é "docere", isto é, tornar-se dócil. Pedir é "rogare", isto é, demonstrar deferência e humildade, enquanto ousar reivindicar algo é "arrogare", donde vem a palavra "arrogância".
Todos estes são exemplos de como a utilização das palavras nunca é neutra e que se suas origens históricas são por si só sugestivas, não bastam para que seja daí retirado daí todo o conteúdo ideológico subjacente às mais variadas formas de construção textual ou uso discursivo da estrutura da linguagem.
Talvez ter isso em mente seja interessante sempre que nos pegamos concordando tácita e passivamente com aqueles discurssos que chamam de "baderneiros arrogantes" aqueles que ameaçadoramente ousam reivindicar algo ou invés de humildimente rogar pela boa disposição da consciência social daqueles que defendem laranjais, ao invés de seres humanos.
Talvez ter isso em mente seja interessante sempre que nos pegamos concordando tácita e passivamente com aqueles discurssos que chamam de "baderneiros arrogantes" aqueles que ameaçadoramente ousam reivindicar algo ou invés de humildimente rogar pela boa disposição da consciência social daqueles que defendem laranjais, ao invés de seres humanos.