quinta-feira, 24 de junho de 2010

José Saramago

A convivência cotidiana não é critério suficiente para o estabelecimento da simpatia recíproca. Aliás, o mais comum é encontrar o relacionamento diário sendo atravessado por mal-entendidos e desavenças, que, no entanto, poderiam ser facilmente superados com uma boa conversa, desde que o saco de pedras fosse deixado em lugares onde mais construtivamente poderiam ser aproveitados, como canteiros da construção civil. O lugar idílico, tranquilio e sem contradições, a que frequentemente apelidamos de paraíso, não existe, embora possamos analogicamente associar as idéias que o constituem com a presença efetiva dos espaços onde enterramos os nossos mortos: o cemitério. Lá jaz a paz em sua plena imperturbabilidade. E para lá teria ido Saramago não fosse (possivelmente) a sua consciência ecológica ou senso materialista de ter preferido ter seu corpo cremado. A mais da verdade, a deposição de suas cinzas em um jardim público, previamente permitida por uma concessão legal, pode significar uma conquista simbólica para aquele que dedicou a sua vida à luta pelo compartilhamento igualitário do bem comum.

Embora não com surpresa, foi com muito pesar que recebi a notícia do falecimento de Saramago. Mesmo tendo acesso a ele apenas mediante a leitura de suas linhas, sentia-me dele muito próximo. Senti talvez como um amigo o seu desaparecimento. Admiro-o como argumentador literário e político, pois nunca permitiu-se o engano de pensar que a literatura não significasse posicionamento político. Pelo contrário, assumiu a impossível neutralidade literária diante das contradições socias com coragem sem nunca subordinar sua literatura às necessidades imediatas da conjuntura política.

Nada melhor do que as suas próprias linhas para conceder-lhe, da minha parte, a merecida homenagem de despedida.

O texto abaixo foi escrito como prefácio ao livro "Terra", produzido em associação com Sebastião Salgado e Chico Buarque em lembrança ao aniversário de 1 ano do massacre do Eldorado dos Carajás, no Pará.

Adeus Saramago!

Prefácio de Saramago ao livro "Terra" (1997)

É difícil defender
só com palavras a vida
(ainda mais quando ela é
esta que vê, severina).
João Cabral de Melo Neto


Oxalá não venha nunca à sublime cabeça de Deus a idéia de viajar um dia a estas paragens para certificar-se de que as pessoas que por aqui mal vivem, e pior vão morrendo, estão a cumprir de modo satisfatório o castigo que por ele foi aplicado, no começo do mundo, ao nosso primeiro pai e à nossa primeira mãe, os quais, pela simples e honesta curiosidade de quererem saber a razão por que tinham sido feitos, foram sentenciados, ela, a parir com esforço e dor, ele, a ganhar o pão da família com o suor do seu rosto, tendo como destino final a mesma terra donde, por um capricho divino, haviam sido tirados, pó que foi pó, e pó tornará a ser. Dos dois criminosos, digamo-lo já, quem veio a suportar a carga pior foi ela e as que depois dela vieram, pois tendo de sofrer e suar tanto para parir, conforme havia sido determinado pela sempre misericordiosa vontade de Deus, tiveram também de suar e sofrer trabalhando ao lado dos seus homens, tiveram também de esforçar-se o mesmo ou mais do que eles, que a vida, durante muitos milénios, não estava para a senhora ficar em casa, de perna estendida, qual rainha das abelhas, sem outra obrigação que a de desovar de tempos a tempos, não fosse ficar o mundo deserto e depois não ter Deus em quem mandar.

Se, porém, o dito Deus, não fazendo caso de recomendações e conselhos, persistisse no propósito de vir até aqui, sem dúvida acabaria por reconhecer como, afinal, é tão pouca coisa ser-se um Deus, quando, apesar dos famosos atributos de omnisciência e omnipotência, mil vezes exaltados em todas as línguas e dialectos, foram cometidos, no projecto da criação da humanidade, tantos e tão grosseiros erros de previsão, como foi aquele, a todas as luzes imperdoável, de apetrechar as pessoas com glândulas sudoríparas, para depois lhes recusar o trabalho que as faria funcionar - as glândulas e as pessoas. Ao pé disto, cabe perguntar se não teria merecido mais prémio que castigo a puríssima inocência que levou a nossa primeira mãe e o nosso primeiro pai a provarem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. A verdade, digam o que disserem autoridades, tanto as teológicas como as outras, civis e militares, é que, propriamente falando, não o chegaram a comer, só o morderam, por isso estamos nós como estamos, sabendo tanto do mal, e do bem tão pouco.

Envergonhar- se e arrepender-se dos erros cometidos é o que se espera de qualquer pessoa bem nascida e de sólida formação moral, e Deus, tendo indiscutivelmente nascido de Si mesmo, está claro que nasceu do melhor que havia no seu tempo. Por estas razões, as de origem e as adquiridas, após ter visto e percebido o que aqui se passa, não teve mais remédio que clamar mea culpa, mea maxima culpa, e reconhecer a excessiva dimensão dos enganos em que tinha caído. É certo que, a seu crédito, e para que isto não seja só um contínuo dizer mal do Criador, subsiste o facto irrespondível de que, quando Deus se decidiu a expulsar do paraíso terreal, por desobediência, o nosso primeiro pai e a nossa primeira mãe, eles, apesar da imprudente falta, iriam ter ao seu dispor a terra toda, para nela suarem e trabalharem à vontade. Contudo, e por desgraça, um outro erro nas previsões divinas não demoraria a manifestar-se, e esse muito mais grave do que tudo quanto até aí havia acontecido.

Foi o caso que estando já a terra assaz povoada de filhos, filhos de filhos e filhos de netos da nossa primeira mãe e do nosso primeiro pai, uns quantos desses, esquecidos de que sendo a morte de todos, a vida também o deveria ser, puseram-se a traçar uns riscos no chão, a espetar umas estacas, a levantar uns muros de pedra, depois do que anunciaram que, a partir desse momento, estava proibida (palavra nova) a entrada nos terrenos que assim ficavam delimitados, sob pena de um castigo, que segundo os tempos e os costumes, poderia vir a ser de morte, ou de prisão, ou de multa, ou novamente de morte. Sem que até hoje se tivesse sabido porquê, e não falta quem afirme que disto não poderão ser atiradas as responsabilidades para as costas de Deus, aqueles nossos antigos parentes que por ali andavam, tendo presenciado a espoliação e escutado o inaudito aviso, não só não protestaram contra o abuso com que fora tornado particular o que até então havia sido de todos, como acreditaram que era essa a irrefragável ordem natural das coisas de que se tinha começado a falar por aquelas alturas. Diziam eles que se o cordeiro veio ao mundo para ser comido pelo lobo, conforme se podia concluir da simples verificação dos factos da vida pastoril, então é porque a natureza quer que haja servos e haja senhores, que estes mandem e aqueles obedeçam, e que tudo quanto assim não for será chamado subversão.

Posto diante de todos estes homens reunidos, de todas estas mulheres, de todas estas crianças (sede fecundos, multiplicai- vos e enchei a terra, assim lhes fora mandado), cujo suor não nascia do trabalho que não tinham, mas da agonia insuportável de não o ter, Deus arrependeu-se dos males que havia feito e permitido, a um ponto tal que, num arrebato de contrição, quis mudar o seu nome para um outro mais humano. Falando à multidão, anunciou: “A partir de hoje chamar-me-eis Justiça.” E a multidão respondeu-lhe: “Justiça, já nós a temos, e não nos atende. Disse Deus: “Sendo assim, tomarei o nome de Direito.” E a multidão tornou a responder-lhe: “Direito, já nós o temos, e não nos conhece.” E Deus: “Nesse caso, ficarei com o nome de Caridade, que é um nome bonito.” Disse a multidão: “Não necessitamos caridade, o que queremos é uma Justiça que se cumpra e um Direito que nos respeite.” Então, Deus compreendeu que nunca tivera, verdadeiramente, no mundo que julgara ser seu, o lugar de majestade que havia imaginado, que tudo fora, afinal, uma ilusão, que também ele tinha sido vítima de enganos, como aqueles de que se estavam queixando as mulheres, os homens e as crianças, e, humilhado, retirou-se para a eternidade. A penúltima imagem que ainda viu foi a de espingardas apontadas à multidão, o penúltimo som que ainda ouviu foi o dos disparos, mas na última imagem já havia corpos caídos sangrando, e o último som estava cheio de gritos e de lágrimas.

No dia 17 de Abril de 1996, no estado brasileiro do Pará, perto de uma povoação chamada Eldorado dos Carajás (Eldorado: como pode ser sarcástico o destino de certas palavras…), 155 soldados da polícia militarizada, armados de espingardas e metralhadoras, abriram fogo contra uma manifestação de camponeses que bloqueavam a estrada em acção de protesto pelo atraso dos procedimentos legais de expropriação de terras, como parte do esboço ou simulacro de uma suposta reforma agrária na qual, entre avanços mínimos e dramáticos recuos, se gastaram já cinqüenta anos, sem que alguma vez tivesse sido dada suficiente satisfação aos gravíssimos problemas de subsistência (seria mais rigoroso dizer sobrevivência) dos trabalhadores do campo. Naquele dia, no chão de Eldorado dos Carajás ficaram 19 mortos, além de umas quantas dezenas de pessoas feridas. Passados três meses sobre este sangrento acontecimento, a polícia do estado do Pará, arvorando-se a si mesma em juiz numa causa em que, obviamente, só poderia ser a parte acusada, veio a público declarar inocentes de qualquer culpa os seus 155 soldados, alegando que tinham agido em legítima defesa, e, como se isto lhe parecesse pouco, reclamou processamento judicial contra três dos camponeses, por desacato, lesões e detenção ilegal de armas. O arsenal bélico dos manifestantes era constituído por três pistolas, pedras e instrumentos de lavoura mais ou menos manejáveis. Demasiado sabemos que, muito antes da invenção das primeiras armas de fogo, já as pedras, as foices e os chuços haviam sido considerados ilegais nas mãos daqueles que, obrigados pela necessidade a reclamar pão para comer e terra para trabalhar, encontraram pela frente a polícia militarizada do tempo, armada de espadas, lanças e alabardas. Ao contrário do que geralmente se pretende fazer acreditar, não há nada mais fácil de compreender que a história do mundo, que muita gente ilustrada ainda teima em afirmar ser complicada demais para o entendimento rude do povo.

Pelas três horas da madrugada do dia 9 de Agosto de 1995, em Corumbiara, no estado de Rondônia, 600 famílias de camponeses sem terra, que se encontravam acampadas na Fazenda Santa Elina, foram atacadas por tropas da polícia militarizada. Durante o cerco, que durou todo o resto da noite, os camponeses resistiram com espingardas de caça. Quando amanheceu, a polícia, fardada e encapuçada, de cara pintada de preto, e com o apoio de grupos de assassinos profissionais a soldo de um latifundiário da região, invadiu o acampamento. varrendo-o a tiro, derrubando e incendiando as barracas onde os sem-terra viviam. Foram mortos 10 camponeses, entre eles uma menina de 7 anos, atingida pelas costas quando fugia. Dois polícias morreram também na luta.

A superfície do Brasil, incluindo lagos, rios e montanhas, é de 850 milhões de hectares. Mais ou menos metade desta superfície, uns 400 milhões de hectares, é geralmente considerada apropriada ao uso e ao desenvolvimento agrícolas. Ora, actualmente, apenas 60 milhões desses hectares estão a ser utilizados na cultura regular de grãos. O restante, salvo as áreas que têm vindo a ser ocupadas por explorações de pecuária extensiva (que, ao contrário do que um primeiro e apressado exame possa levar a pensar, significam, na realidade, um aproveitamento insuficiente da terra), encontra-se em estado de improdutividade, de abandono, sem fruto.

Povoando dramaticamente esta paisagem e esta realidade social e económica, vagando entre o sonho e o desespero, existem 4 800 000 famílias de rurais sem terras. A terra está ali, diante dos olhos e dos braços, uma imensa metade de um país imenso, mas aquela gente (quantas pessoas ao todo? 15 milhões? mais ainda?) não pode lá entrar para trabalhar, para viver com a dignidade simples que só o trabalho pode conferir, porque os voracíssimos descendentes daqueles homens que primeiro haviam dito: “Esta terra é minha”, e encontraram semelhantes seus bastante ingénuos para acreditar que era suficiente tê-lo dito, esses rodearam a terra de leis que os protegem, de polícias que os guardam, de governos que os representam e defendem, de pistoleiros pagos para matar. Os 19 mortos de Eldorado dos Carajás e os 10 de Corumbiara foram apenas a última gota de sangue do longo calvário que tem sido a perseguição sofrida pelos trabalhadores do campo, uma perseguição contínua, sistemática, desapiedada, que, só entre 1964 e 1995, causou 1 635 vítimas mortais, cobrindo de luto a miséria dos camponeses de todos os estados do Brasil. com mais evidência para Bahia, Maranhão. Mato Grosso, Pará e Pernambuco, que contam, só eles, mais de mil assassinados.

E a Reforma Agrária, a reforma da terra brasileira aproveitável, em laboriosa e acidentada gestação, alternando as esperanças e os desânimos, desde que a Constituição de 1946, na seqüência do movimento de redemocratização que varreu o Brasil depois da Segunda Guerra Mundial, acolheu o preceito do interesse social como fundamento para a desapropriação de terras? Em que ponto se encontra hoje essa maravilha humanitária que haveria de assombrar o mundo, essa obra de taumaturgos tantas vezes prometida, essa bandeira de eleições, essa negaça de votos, esse engano de desesperados? Sem ir mais longe que as quatro últimas presidências da República, será suficiente relembrar que o presidente José Sarney prometeu assentar 1.400.000 famílias de trabalhadores rurais e que, decorridos os cinco anos do seu mandato, nem sequer 140.000 tinham sido instaladas; será suficiente recordar que o presidente Fernando Collor de Mello fez a promessa de assentar 500.000 famílias, e nem uma só o foi; será suficiente lembrar que o presidente Itamar Franco garantiu que faria assentar 100.000 famílias, e só ficou por 20.000; será suficiente dizer, enfim, que o actual presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, estabeleceu que a Reforma Agrária irá contemplar 280.000 famílias em quatro anos, o que significará, se tão modesto objectivo for cumprido e o mesmo programa se repetir no futuro, que irão ser necessários, segundo uma operação aritmética elementar, setenta anos para assentar os quase 5.000.000 de famílias de trabalhadores rurais que precisam de terra e não a têm, terra que para eles é condição de vida, vida que já não poderá esperar mais. Entretanto, a polícia absolve-se a si mesma e condena aqueles a quem assassinou.

O Cristo do Corcovado desapareceu, levou-o Deus quando se retirou para a eternidade, porque não tinha servido de nada pô-lo ali. Agora, no lugar dele, fala-se em colocar quatro enormes painéis virados às quatro direcções do Brasil e do mundo, e todos, em grandes letras, dizendo o mesmo: UM DIREITO QUE RESPEITE, UMA JUSTIÇA QUE CUMPRA.

JOSÉ SARAMAGO

1997

terça-feira, 8 de junho de 2010

G. Lukács - Os Princípios Ontológicos Fundamentais de Marx (Para uma Ontologia do Ser Social)

Sabe-se que a obra de Lukács "Ontologia do Ser Social" é ainda uma ilustre desconhecida nos meios acadêmicos e políticos, especialmente naqueles que se reivindicam fiéis à tradição marxista.

Várias são os condicionamentos para tanto: desde o período histórico em que vivemos - marcado por um intenso caráter contra-revolucionário - até a tentativa de desqualificação da obra por parte de ex-discípulos de Lukács, que divulgaram sobre ela a acusação de que tratava-se de uma metafísica estalinista, antes mesmo de a obra ser publicada. Enfim, esta obra de Lukács está ainda por ser sistematicamente descoberta, embora já haja no Brasil um importante movimento de debate em torno desta temática (alguns pensadores brasileiros conhecidos vinculados a esta tradição são Leandro Konder, José Chasin, José Paulo Netto, Carlos Nelson Coutinho, Sergio Lessa, Ester Vaisman, Gilmaisa Costa, Ivo Tonet, Cristina Paniago, etc.)

Vive-se, no entanto, um reavivamento do interesse a respeito da obra de Marx. Seja pela falácia do pensamento único neoliberal, seja pela crise da sociedade de mercado, seja pela necessidade de intervenção consciente da humanidade para que seja solucionada a crise social imperante, a obra do pensador alemão passa a ser revisitada e com um aspecto importante, anteriormente ausente: o fim da URSS - apesar de tudo - contribuiu para que a investigação teórica a respeito das situações sociais concretas em cada lugar do mundo não esteja logo à partida subordinada a interesses políticos pré-determinados, como frequentemente aconteceu durante a vigência da II e (principalmente) da III Internacinais.

Uma das perspectivas que ganham visibilidade e radicalidade teórica neste caminho é aquela que interpreta a obra de Marx a partir de uma abordagem ontológica. Um dos caminhos importantes deste reavivamento da obra do comunista alemão é aquela iniciada, portanto, por Lukács. E é com o objetivo de contribuir para a divulgação da obra deste pensador que eu disponibilizo o link para download de um dos capítulos da "Ontologia do Ser Social". Espero que seja muito bem aproveitado, uma vez que é cada vez mais difícil encontrar um exemplar deste livro - que tem a tradução do Carlos Nelson Coutinho - para comprar, mesmo em sebos.

Façam bom proveito!

Downloadeie este livro.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

4 Cabeça

Várias são as formulações filosóficas e/ou científicas e mesmo de jogos de crianças que definem a não exclusiva unidirecionalidade de qualquer ação humana. "Não faça aos outros o que não queres que te façam a ti", "a minha liberdade acaba onde começa a do outro", "toda ação gera uma reação de igual força e sentido contrário", "tudo que bate volta", "repicou, perdeu", são todos exemplos de advertências de como todas nossas ações, embora teleologicamente planejadas e previamente idealizadas, uma vez que se objetivam, não podem ser por nós plenamente controladas e somos obrigados, assim, a retroagir sobre suas consequências em uma interminável cadeia de causalidades, subjetivações e novas objetivações. Até aquela célebre e muito ignorada máxima materna que nos aconselha não procurar chifre na cabeça de cavalo é uma maneira de demonstrar que o senso comum não é tão acientífico como insistem alguns manuais de metodologia científica.

Isto tudo para dizer que, de agora em diante, terei que controlar conscienciosamente um hábito que estava quase transformando-se em vício: beber café. Há regiões do nosso corpo que só damos conta da sua existência quando começam a incomodar. Assim é com vários músculos que são imperceptíveis até o dia após a primeira aventura na academia ou após a pelada do fim de semana. A frase "não sabia que eu tinha tantos músculos assim" é comumente ouvida de quem insiste em se dispor a uma esporádica vida não sedentária. Não é exatamente o que está acontecendo com o meu músculo orbicular do olho esquerdo, mas é quase: começou a se contrair repetida, involuntária e espasmodicamente, o que incomoda mais do que gente que acha que vence um discussão por falar mais alto que os outros.

Além de tomar conhecimento das vicissitudes que órgãos do nosso corpo possam ter, situações como esta nos possibilitam o conhecimento de coisas novas, como, por exemplo, o nome pelo qual os médicos costumam chamar estes espasmos oculares: blefaroespasmo é a palavra. Eu quase não consigo resistir a tentação de seccionar esta palavra em "blefar o espasmo", o que significaria que a irritação profunda que isso causa em mim seria resultado de um enganação proposital de um músculo facial (com o perdão da rima). Aprendi também que isso pode ter como causa o excesso de cafeína, substância que, dadas as suas prováveis consequências quando consumida em excesso, não poderia ser comercializada tão livremente como é.

Mas não era nada disso que eu queria falar. O que eu queria mesmo era disponibilizar o link para download de um disco conjunto do Maurício Baia, Gabriel Moura, Luis Carlinhos e Rogê, que se reuniram para compor um trabalho muito interessante com as parcerias que existem entre eles. Um disco muito bem feito, de cuja singeleza não se pode esperar, entretanto, falta de propósito. Da minha parte, acredito que a simplicidade do disco é resultado de um trabalho muito cuidadoso de produção, em que as revisitações de algumas músicas já conhecidas destes caríssimos senhores tinham o objetivo de criar um corpo unitário na concepção do álbum.

Vale a pena conferir e deixar que estes 4 cablocos façam a sua cabeça - tal como eles reivindicam.






Downloadeie este disco

sexta-feira, 7 de maio de 2010

José Paulo Netto - O Método em Marx (mp3)

Dando prosseguimento à divulgação de materiais básicos para o movimento de rediscussão da obra marxiana em tempos de crise do capital, disponibilizo aqui os arquivos de áudio (mp3) de um curso ministrado pelo prof. José Paulo Netto sobre o método em Marx.

Aqui ele apresenta o percurso intelectual de Marx no contexto histórico de crise social alemã e européia do século XIX, que contou com a constituição do proletariado enquanto classe-para-si, especialmente a partir de 1848. Apresenta a especificidade da obra marxiana e suas diferenças essenciais - do ponto de vista teórico-metodológico e político - aos principais pensadores das ciências sociais, como Weber e Durkheim.

O curso está dividido em 10 arquivos.

Enjoy it!

Aula 1 - parte 1
Aula 1 - parte 2
Aula 2 - parte 1
Aula 2 - parte 2
Aula 3 - parte 1
Aula 3 - parte 2
Aula 4 - parte 1
Aula 4 - parte 2
Aula 5 - parte 1
Aula 5 - parte 2

sábado, 1 de maio de 2010

Sergio Lessa - Trabalho e Sujeito Revolucionário no Capitalismo Contemporâneo (MP3)

Malavisados possíveis leitores de tão malfadado blog, disponibilizo para quem se interessar os áudios de um curso que o professor Sergio Lessa (UFAL) lecionou a respeito da obra "Ontologia do Ser Social" de Lukács.

Neste curso, ele aborda o percurso do pensador húngaro nos quatro capítulos sistemáticos da Ontologia: Trabalho, Reprodução, Ideologia e Alienação. E termina com sua abordagem peculiar a respeito do problema da revolução no capitalismo contemporâneo, o problema das classes sociais e o problema do sujeito revolucionário. Vale a pena ouvir.

O que eu fiz foi extrair o áudio das filmagens deste curso disponíveis na página da internet do próprio professor Lessa (www.sergiolessa.com).

Espero que aproveitem.

Trabalho e Sujeito Revolucionário no Capitalismo Contemporâneo - parte 1
Trabalho e Sujeito Revolucionário no Capitalismo Contemporâneo - parte 2
Trabalho e Sujeito Revolucionário no Capitalismo Contemporâneo - parte 3
Trabalho e Sujeito Revolucionário no Capitalismo Contemporâneo - parte 4
Trabalho e Sujeito Revolucionário no Capitalismo Contemporâneo - parte 5
Trabalho e Sujeito Revolucionário no Capitalismo Contemporâneo - parte 6
Trabalho e Sujeito Revolucionário no Capitalismo Contemporâneo - parte 7
Trabalho e Sujeito Revolucionário no Capitalismo Contemporâneo - parte 8
Trabalho e Sujeito Revolucionário no Capitalismo Contemporâneo - parte 9



sexta-feira, 30 de abril de 2010

Cássius - Do contrário seria assim.flv




Não fosse o absurdo do salto tentado à janela
O absurdo da vida escondida seria mais belo
Não fosse a tristeza sem graça do riso banguela
Chocaria bem mais em sua frente o vazio da tigela

Não fosse o casal sob a chuva na esquina se amando
Seria o menino com frio o motivo do pranto
Não fosse a leitura do livro o cansaço do dia
Faltaria fraqueza e o tédio então findaria

Queria eu enfrentar mil dragões
Ver em moinho gigantes anões
Confiante na minha armadura, em minha triste figura
Contra a vida lutar

Cássius - Idas e Vindas do Sr. Lazy.flv


De criativo no meu ócio só crescem adipócitos

Milho aos pombos, tardes longas e receitas da TV

De criativo nem ao que meus olhos e ouvidos se transmite

Sou da matéria fisiológica todo dia preso, encarcerado

Espanto minha imagem presa no espelho do banheiro

Onde a fluidez da água lava a superfície fria

Ei você, venha comigo de braços dados a marchar

Sem medo de se ferir e não há tempo pra fugir

O tempo rasga minha pele e não perdoa hesitação

Diga “adeus” ao Peter Pan e pintaremos o amanhã

Vejo a cidade se expandindo a passos largos

O verde é derrubado e brotam luzes artificiais

Pra logo, logo a primavera ser vendida em cestas nas feirinhas

Meus vícios de linguagem são cópias da televisão

Que me ensina como me portar e ser para sempre vão

Nas rodinhas me alugo dando uma de Jabor


sábado, 13 de fevereiro de 2010