segunda-feira, 7 de abril de 2008

A fratura da vida em suspensão



Fico de escrever sempre. Assim, tenho idéias boas frequentemente, uns repentes de luz. Tenho das ruins também, mais frequentemente ainda. E nessa de decidir qual é ruim e quando é boa, vai ficando sem atualização o elemento autoral do blog. O que acredito não fazer falta para ninguém também. Então, acordados, ficamos quites.

Acontece que isso de não escrever não é por causa dos outros, não. É por mim mesmo. Eu penso assim: blablablablablablabla... blablablablablabla... blablablablablabla... blaba... . Deu pra imaginar? Não? Penso com pausas abruptas. Com interrupções instantâneas. Fica entrecortado. É difícil, pois, juntar os fragmentos todos. Se pensamento e respiração fossem sincrônicos, eu sofreria de uma condição clínica conhecida no meio médico como "taquipnéia crônica". Ainda bem que não são.

Mas não era isso que eu queria dizer. Era que eu fico em suspensão. Como que sempre em estado de espera de melhor humor pra sentar, pensar, juntar os cacos de pensamento e escrever. Fico assim, então, sempre na ansiedade de um devir propício que me estimule. Não é bom, nem um pouco. Falta alguma coisa para me por em estado de escoteiro-sempre-alerta. Queria estar mais perto da Cidinha. Estou sofrendo porque encaro esta sucessão contemporânea de acontecimentos como provisórios. Estou provisoriamente na cidade em que nasci e sempre vivi; estou provisoriamente naquele segundo curso de graduação; estou provisoriamente lotado em tal agência do ibge. Tudo é provisório porque o que tem de perene na minha cabeça é a vida junto de Cidinha. Sem vida junto de Cidinha, acaba sequência, acaba encadeamento, acaba a ligadura da vida. Resta fins de semana, resta saudades, resta ansiedade, resta uma vista fraturada da vida e do mundo.

Só não sou como uma pena que voa solitária ao sabor do vento ou como aquela sacola de plástico do "Beleza Americana" porque consigo projetar futuros. Projeto e, se dependesse só de mim, o texto da nossa vida já estaria sendo escrito na linguagem mais fluida e simples do mundo. Igual do Mário Quintana. Quando se vive assim, em suspensão, o tombo é pior quando a gravidade da vida real nos puxa com força, de repente, para baixo.

Um comentário:

Anônimo disse...

... como alguém consegue escrever tanto da falta de idéia pra escrever?...