domingo, 22 de maio de 2011

"A Fina Flor da Malandragem", de Sérgio Vaz

Duzão é piloto, e o que dá fuga à essa malandragem. Na madrugada, a bordo de um Mercedes, dirige certo por vias tortas.

Aninha já passou o ferro em várias madames, dizem por aí que pra mais de vinte.

Cabeção tem olhar de rapina e um iceberg no coração, quando entrea no banco já vai direto no caixa.

Colorau não age na quebrada, gosta de fazer mansão.

Lu ganha a vida distribuindo suas ideias através de um pó branco comprimido, a molecada fica alucinada. Nada contra quem mexe, mas ela nunca meteu a mão no pó dos outros.

Vavá não pode ver carro parado que leva, se não der na chave leva nas costas.

Lourival mete o cano desde criança, o pai de virava no alicate, e nunca teve medo de cerca elétrica.

Como teve problemas de berço, Mariana pega o filho dos outros e devolve por uma quantia mínima.

Julião põe medo em muita gente, também pudera, já enterrou vários com uma pá na mão.

Salete limpou a casa de Sonia, quem deu a fita foi a Rose, que se bobear limpa até as casas dos parentes.

Marcio resgatou Sales da cadeia, e saiu do presídio pela porta da frente, ninguém fez nada.

Elizabeth quase não ri, é uma espécie de gerente da boca, na rua dizem que ela é a patroa.

Nego Jan vende tudo que pega: relógio, TV, DVD, Eletrodomésticos em geral, carro, moto, corrente de ouro, roupa de marca, e demais mercadorias. Sua lábia é mais afiada que lâmina de gigolô.

Zóio tem problemas com a injustiça e está no semiaberto, passa o dia na oficina e a noite dorme no 3° andar. Quando pode, Guida e preto Will, parceiros de caminhada, o visitam no domingo.

Luciana não tem medo de sangue, já ajudou a cortar vários desconhecidos, muitos cagam de medo de morrer na mão dela.

Wilsinho não tem medo de nada, já passou o revólver até no carro da polícia.

As pessoas acima são suspeitas de ter a coragem de trabalhar, e enfrentar o dia a dia com a dignidade que só o sofrimento ensina, e por mais simples que sejam, nunca se evadiram da responsabilidade de lutar.

A malandragem fica por conta de que lê.

Sérgio Vaz é poeta e fundador da Cooperifa.

Publicado no n. 168 (Março de 2011), p. 19 da Revista Caros Amigos.

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