"Havemos de favorecer e ajudar aos necessitados e desvalidos. Hás de saber, Sancho, que este, que vem pela nossa frente, o capitaneia o grande Imperador Alifanfarrão, senhor da grande Trapobana; e estoutro, que marcha por trás das minhas costas, é o do seu inimigo el-rei dos garamantes Pentapolim do Arremangado Braço, porque sempre entra nas batalhas com o braço direito nu. Este Alifanfarrão é um pagão furibundo, e está enamorado da filha de Pentapolim. Seu pai não quer dá-la ao rei pagão”.
terça-feira, 30 de outubro de 2007
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Primeira Pessoa
Acabei de voltar do banheiro. É engraçado, porque eu já estou cansado de saber que uma das minhas características mais estranhas é que eu sou condicionado a pensar sobre as coisas no banheiro. Principalmente durante o banho. Parece que sentir a água esquentando minha pele abre minha percepção para novas idéias. Acontece que pensar nem sempre é o mesmo que lembrar. E acontece também que esqueço sempre o que pensei como se a toalha enxugasse a memória e não deixasse nem as lembranças do chuveiro.
Mas agora a pouco, antes de voltar do banheiro, lembrei. E decidi vir correndinho para cá para não mais esquecer. E tenho que escrever rápido para que as lembranças não escapem. E já estou sentindo-as imergirem. Mas vamos lá, vou fazer um esforço.
Depois que me espantei no espelho, pensei em como começar um conto, uma crônica, um texto qualquer. Sou craque em começar textos. Poderia ser bem sucedido se houvesse mercado para “iniciadores de texto”, pois já li várias vezes que essa tal da primeira frase é sempre um tormento para alguns escritores. Para mim o tormento vem depois, quando tenho que conseguir convencer àqueles que me lêem de que eu realmente estou querendo dizer alguma coisa.
De modo que eu pensei em começar algo assim:
“Esses dias mesmo, acabei estacando no seguinte repente: achei engraçado a expressão ´primeira pessoa´ que li num fragmento de xerox duma aula dum cursinho que tem perto de casa. Pensei: ´por que nós temos que nos referir a nós mesmos como sendo primeira pessoa?´ E percebi que estava cometendo um paradoxo, uma contradição em si, porque o pronome “nós” não é primeira pessoa. E como não sou um ás em gramática, nem sei que diabo de pessoa somos “nós”. Primeira pessoa sou eu. Você, por exemplo, é uma flexibilização do pronome Tu, que também não é primeira pessoa; é segunda. Ele é terceira. E acaba por aí, mesmo que na mesa de bar tenha mais alguns amigos. Todos eles, menos você, serão terceiras pessoas. Assim, gramaticalmente, minhas relações ficam reduzidas a três pessoas sempre: eu, você e ele ou ela. Uma outra coisa engraçada é que destas três pessoas que existem, apenas uma concorda com o gênero: a terceira; nas outras duas não se grafia o feminino e o masculino. Eu sou eu, posso ser mulher ou homem. Tu ou você, mesma coisa. Agora, a terceira pessoa é ele ou ela. Isto no português porque no inglês parece que todo mundo é assexuado.
O que acho besteira – embora entenda que é preciso certa ordem nisso tudo – sou eu ser a primeira pessoa na hierarquia das pessoas. Por quê eu venho em primeiro lugar? Essa regra não respeita nem a ordem de chegada ao mundo, porque tão logo nasço já sou eu, isto é, primeira pessoa. Nem bem cheguei e sou o primeiro da fila e as outras vêm depois de mim. E eu ainda nem sei que língua vão me ensinar a falar.
As pessoas dão muito crédito aos primeiros lugares. Eu recuso ser o primeiro, me recuso a me tomar como referência, como ponto de partida. Prefiro me fundir
Olha só. Comecei um texto e acho que terminei. O desfecho foi feito às pressas. Tenho que aprender a ser mais conciso. Mas não é fácil.
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
O Risco da Sinceridade
Se conselho fosse bom, ninguém dava: vendia.
Mas as pessoas insistem. Não desistem: persistem.
Vítima de um complexo de fidelidade, sou fiel até à banca de revista onde compro chocolates, mesmo quando tinha de agüentar as adulações do jornaleiro que sempre entregava o troco com dois Embarés e um “apareça, lindinha”.
Eu aparecia. A salvação do mal-estar causado pela bajulação era o chocolate, consumido a partir do primeiro pé fora da banca, e os Embarés, logo em seguida, pra tirar o gosto.
De tanto voltar, o jornaleiro sentiu-se respaldado ao ponto de me dar conselhos.
Sei lá: deve ter visto um quê de vulnerabilidade no meu sorriso amarelado pelos adules.
Aproveitando um dia de infantil indecisão entre um Prestígio e dois Batons, começou:
“Tão bonitinha! Não vá deixar de estudar não, viu?”
Imersa na dúvida se, na verdade, não deveria pedir um Chokito, respondi indiferente que já estava com os estudos concluídos.
Feliz, ele:
“Muito bem! Agora, minha filha, entre na faculdade: vá correr atrás de um grau.”
Começando a me encabular, respondi, entre uma linha e outra do pedido de um Sensação, que já tinha entrado na faculdade.
Espantado, mas não desistindo de sua missão, o jornaleiro continuou:
“Já? Pois vá até o fim! Tem tanta gente que desiste no meio do caminho. Não vá desistir não!”
Completamente embaraçada, mas incapaz de mentir pra quem tanto me queria ajudar, entreguei o dinheiro, e respondi, recebendo o chocolate, já ter me formado.
Encurralado, catou um novo conselho, e falou feito um pai, num tom autoritário, quase irritado:
“Pois não vá depender de homem não! Arrume um emprego! Trabalhe! Depois, pense duas vezes antes de casar! E, olhe lá, arranje um bom marido!”
Ouvi pegando o troco. Agradeci sem conferir. Sem guardá-lo, saí.
Quando me dei conta: já tinha comido o chocolate.
E pra tirar o gosto: sequer um Ice Kiss.
Histórias Daquelas, e daquelas outras também
O que eu queria com este preâmbulo era dizer que a internet nos reserva surpresas deliciosas. Mas para isso a gente deve deixar de visitar só os mesmo endereços todos os dias. E aproveitar dos links. O medo de vírus nos condiciona a ser desconfiado. Eu não tenho medo não. Qualquer coisa dou um "cancelar". Então, me senti muito feliz em saber que as coisas que a gente precisa conhecer já existem, porque alguém já fez. Nós precisamos é complementar, como acontece quando em uma roda de amigos um conta uma piada e os outros vão espichando-a na vã tentativa de tornarem infinitas as momentâneas risadas.
Eu encontrei o que queria. Sem querer. É um blog. Quase tudo hoje tem num blog. Então, a coisa que - sem querer - queria encontrar foi um blog.
Imagine que você é um solitário. Um eterno perdedor. Que você até tem vontade, mas se vê dominado pela inércia de repouso. Falta força para se pôr em movimento. Os seus amigos começam a ficar preocupados com você. Um pouquinho depois, sua família também. Sua avó convence a todos que a solução a lhe achar uma namorada. Eles ficam te apurrinhando até que você fica puto, entra na internet, escolhe meu blog como página inicial, vai no menu à direita e escolhe o link Histórias Daquelas, e daquelas outras também. Posso te garantir que, no mínimo, você vai ver que há chance de se ver coisas boas nessa vida. Ah, para que os presunçosos não se sintam não merecedores da dica, vocês também podem aprender alguma coisa lá. Como eu.
Garanto. Naveguem pelo blog. Leiam os escritos e me digam se aquilo não enche o balão murcho da nossa esperança. Confesso que estou pagando pau pra moça. Mas fazer o que?
Atenciosamente,
Alifanfarrão
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
sábado, 20 de outubro de 2007
Faichecleres
Minha mãe talvez tenha razão. Eles são mesmo uns canalhas. Mas no bom sentido é claro! A gente consegue perceber o sofrimento de uma amor não correspondido mas sem concessões, como, por exemplo, em "Isso não é tão mal assim". O amor tem dessas coisas.
Abraço a todos!
Enjoy!
Calçada Da Fama (2007)
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quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Pacotes, excluídos e emergentes
Considere-se a afirmação seguinte: “Os países atrasados anunciaram um pacote de ajuda aos miseráveis.” Considere-se agora esta outra: “Os países emergentes anunciaram um conjunto de medidas de ajuda aos excluídos.” Qual a diferença entre uma frase e outra? Nenhuma, quanto ao conteúdo. Mas como soa mais benigna a segunda, expurgada da crueza selvagem da primeira... A primeira, dita num salão, choca como palavrão. Soa como vitupério de rameira em rixa de bordel. A segunda deleita como solo de clarineta. Parece discurso de doutor em noite de entrega de título honoris causa. Por isso, governa-se com a segunda.
Estamos falando da arte de se valer dos eufemismos. Quando morre a mãe de alguém, é grosseiro anunciar-lhe: “Sua mãe morreu”. No mínimo, a pessoa dirá que a mãe “faleceu”. Também poderá dizer que “desapareceu”. Ou então, se ainda achar pouco, que “feneceu”, delicado verbo emprestado às flores, com o que a morte se apresentará cheirosa como lírio, colorida como cravo. O eufemismo, como a hipocrisia, é a homenagem que, na linguagem, o vício presta à virtude. Soa mais virtuoso confessar a existência de “relações impróprias” com alguém, conforme fórmula celebrizada pelo presidente dos Estados Unidos, do que dizer que se cometeu adultério.
Na segunda das frases acima estão reunidos três dos eufemismos mais correntes na vida pública. Dois deles são universais – “emergente” para país atrasado e “excluído” para miserável. O terceiro, “conjunto de medidas” em lugar de “pacote”, fala exclusivamente à sensibilidade brasileira e, mais ainda, do atual governo brasileiro. “Emergente” para país atrasado ou, para ser mais exato, remediado, é a última de uma longa linhagem de fórmulas classificatórias dos países segundo sua riqueza. Até a primeira metade do século, quando ainda não se carecia de eufemismos, nesta área – ou, caso se prefira, de linguagem politicamente correta – os países eram simplesmente ricos e pobres, quando não metrópoles e colônias. Com a adoção do conceito de “desenvolvimento”, depois da II Guerra, passaram a ser “desenvolvidos” e “subdesenvolvidos”. Mais adiante, para não achincalhar a todos, indistintamente, com a pecha infamante de “subdesenvolvido”, premiou-se os melhores com o gentil “em desenvolvimento”. Tais países não eram mais “sub”, não estavam mais tão por baixo. Nos últimos anos, substituiu-se o “em desenvolvimento” por “emergente”, palavra que igualmente se opõe ao “sub”. São países não mais submersos, mas que emergem. Já põem a cabeça para fora.
“Excluídos” para designar os miseráveis é o coroamento de uma linhagem mais longa ainda de palavras com as quais se tenta melhorar a condição das pessoas na rabeira da escala social. Já se recorreu a peças do vestuário, por exemplo. Na Revolução Francesa havia os “sans-culottes”, os desprovidos do tipo de calça – o “culotte” – de uso dos nobres. Na Argentina de Perón e Evita consagrou-se o “descamisado”. Também já se falou – e se fala ainda – em menos favorecidos, despossuídos, humildes... “Excluído”, dirá o leitor, tem um sentido diverso. É aquele que o sistema produtivo exclui. Alguém pode ser pobre, porque mal remunerado, mas incluído, porque tem emprego e função na produção. Se o pobre pode não ser excluído, no entanto, dificilmente alguém será miserável e incluído. O que leva a concluir que, na prática, o excluído quase sempre se confunde com o miserável.
Resta falar da sorte da palavra “pacote”. “Pacote” nasceu inocentemente, na administração da economia, talvez por imitação das agências de turismo, que quando vendem passagens e hospedagem, tudo junto, vendem um “pacote”, para designar não uma, mas várias iniciativas adotadas ao mesmo tempo. Nasceu nesse sentido e nele devia permanecer: o de uma pluralidade de medidas, em vez de uma única. Sabe-se que o governo, para enfrentar a presente crise, adotará uma pluralidade de medidas. Por que então o horror à palavra pacote, anatematizada repetidas vezes pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que, ainda num discurso na semana passada, garantiu que “não existe nada de pacotes”?
Ocorre, circunstância fatídica, que os pacotes foram introduzidos na política brasileira pelo regime militar e costumavam ser baixados sem aviso nem consulta. Essa característica acabou contaminando o conceito de pacote, e eis-nos então de volta à anódina expressão “conjunto de medidas”, com a qual se pretende conferir a tais medidas, por maldosas que sejam, um atestado de bom comportamento. O eufemismo, desde sempre, foi parte integrante tanto da arte de governar quanto da de administrar as relações entre as classes sociais. No Brasil do século passado não havia escravo. Havia o “elemento servil”. O que isso tudo quer dizer é que quando é difícil modificar a sociedade, ou o governo, modifica-se a linguagem. Se não conseguimos, governo e sociedade, ser mais justos ou mais democráticos, sejamos, pelo menos, mais finos.
(Roberto Pompeu de Toledo – Revista VEJA – 14.10.98)
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
O Revisor do "S Ponto" e seu Final Feliz
domingo, 7 de outubro de 2007
Passamos das 1000 visitas
Esta postagem é dedicada em agradecimento àqueles que contribuíram para que o blog chegasse ou seu primeiro milhar. É de uma felicidade sem tamanho, que quase não cabe dentro do meu peito. Ainda bem que eu tenho plenos pulmões.
Enfim, obrigado a todos. Principalmente à minha irmã, que colocou o endereço do bolg como página inicial do seu IE e contribui com uma voltinha cada vez que ela abre uma janela nova.
Vão arrumar o que fazer.
Obrigado!
sábado, 6 de outubro de 2007
Enigma
Boa sorte!!!
Tem um ônibus com 7 garotas dentro
Cada garota tem 7 mochilas
Dentro de cada mochila, tem 7 gatos grandes
Cada gato grande tem 7 gatos pequenos
Todos os gatos tem 4 pernas cada
Quantas pernas tem dentro do onibus?
Baixe o arquivo
Silas Simplesmente!!!
Outro personagem do Marco Luque! O mesmo humorista do Jackson Five, o motoboy!!!
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Governador do DF demite o Gerúndio
"Decreto nº 28.314, de 28 de setembro de 2007.
Demite o gerúndio do Distrito Federal, e dá outras providências.
O governador do Distrito Federal, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 100, incisos VII e XXVI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, DECRETA:
Art. 1° - Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal.
Art. 2° - Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA.
Art. 3° - Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 4º - Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 28 de setembro de 2007.
119º da República e 48º de Brasília
JOSÉ ROBERTO ARRUDA"
Retirado da Folha de S. Paulo
Moreira da Silva - O Último dos Malandros (1958)
O Último dos Malandros
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terça-feira, 2 de outubro de 2007
Moreira da Silva - Morengueira (1964)
Morengueira (1964)
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