Ontologia é uma palavra feia. Parece ser coisa de outro mundo! Não é à toa que, na tradição filosófica, ela é reconhecida geralmente como da área da metafísica. Nós, meros mortais, que pensamos não termos nada de filósofos, acreditamos nunca ter pensado nada em termos ontológicos. Aliás, se não fosse tão incomum e se, por outro lado, tivesse algum apelo comercial, poderíamos começar a encontrar ontologias sendo vendidas em cada lojinha de R$ 1,99.
Acontece, entretanto, que, se a palavra é pouco usual, o seu significado é utilizado mais do que coca-cola. Quem nunca disse ou nunca ouviu a seguinte afirmação: "o ser humano é uma droga mesmo", o "homem é essencialmente egoísta", "a natureza humana é individualista", etc. etc. Todas estas afirmações são de caráter ontológico, porque são definições gerais sobre o "ser" e, neste caso, sobre um ser específico: o ser humano. Ao definir o que é essencialmente um ser, você automaticamente define os limites estruturais para além dos quais nenhuma alteração é possível. No caso acima, se a essência humana é individualista, egoísta, mesquinha, etc. a sociedade capitalista é a forma social adequada àquela essência e qualquer proposta de transformação social está condenada a priori ao fracasso por esbarrar nos limites da tal da natureza humana.
A História, no entanto, nos ajuda um pouco na desmistificação disso. Se a natureza humana é tal como definida acima, significa que Aristóteles estava certo ao dizer que os escravos eram apenas "animais falantes"; que, afinal, não foi perda de tempo a célebre discussão no interior da Igreja Católica à época dos "descobrimentos" da América sobre a humanidade ou não dos nativos de além-mar; que os aproximadamente 80 mil anos de existência humana anterior ao surgimento das primeiras sociedades de classe eram anti-naturais.
Para aqueles que não gostam de História por considerar que isso é coisa de velho e que não é importante porque não estava vivo naquela época, o filme "Meteoro" ajuda a desmistificar toda esta ontologia formada enquanto ideologia no curso de desenvolvimento da sociedade burguesa ocidental. O filme conta a história de um grupo de trabalhadores que, após a construção de Brasília, se dedica a abrir as estradas que ligarão a nova capital federal plantada no centro do cerrado ao resto do país. Durante o planejamento da construção da estrada que ligará Brasília à Fortaleza, estes trabalhadores encontram um imenso deserto, que, entre outras coisas, dificulta a realização do projeto, a não ser que eles encarassem o desafio hercúleo e estúpido de cortar o deserto no braço. Enquanto eles aguardam orientações quanto ao "quê fazer", vem o Golpe Militar e eles ficam esquecidos no meio do nada.
Todo o filme narra, então, o esforço empreendido por estas pessoas para sobreviverem em sociedade em um meio ambiente completamente hostil, contando apenas com algumas ferramentas e os seus conhecimentos sobre a vida "civilizada". Dadas as novas condições sociais de sobrevivência, eles criam uma nova organização social.
É muito interessante, porque, dentre outras coisas, este filme é baseado em uma história real.
Assistam! É sempre bom variar um pouquinho!
Ano: 2007
Diretor: Diego de la Texera
Elenco: Cláudio Marzo, Nicolas Trevijano, Daisy Granados, Maria Dulce Saldanha, Leandro Hassum, Luci Ferreira, Paula Bulamarqui.
Sinopse: Na década de 60, durante o período desenvolvimentista, iniciado por JK, um grupo de trabalhadores inicia a construção da estrada Brasília-Fortaleza, para ligar a nova capital com o nordeste brasileiro. Porém, em 1964 com o golpe militar, os trabalhadores são esquecidos no meio do nada junto com um grupo de prostitutas que os visitava mensalmente. Assim, trabalhadores e prostitutas, acabam por fundar a nova sociedade de Meteoro.
Formato: AVI Tamanho: 816 Mb
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