"Havemos de favorecer e ajudar aos necessitados e desvalidos. Hás de saber, Sancho, que este, que vem pela nossa frente, o capitaneia o grande Imperador Alifanfarrão, senhor da grande Trapobana; e estoutro, que marcha por trás das minhas costas, é o do seu inimigo el-rei dos garamantes Pentapolim do Arremangado Braço, porque sempre entra nas batalhas com o braço direito nu. Este Alifanfarrão é um pagão furibundo, e está enamorado da filha de Pentapolim. Seu pai não quer dá-la ao rei pagão”.
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Estou Lendo "Caim" de José Saramago
"Apesar de assassino, caim é um homem intrinsecamente honesto, os dissolutos dias vividos em contubérnio com lilith, ainda que censuráveis do ponto de vista dos preconceitos burgueses, não foram bastantes para perverter o seu inato sentido moral da existência, haja vista o corajoso enfrentamento que tem mantido com deus, embora, forçoso é dizê-lo, o senhor nem de tal tenha apercebido até hoje, salvo se se recorda a discussão que ambos travaram diante do cadáver ainda quente de abel".
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Sobre o Porquê de se Estudar História
Quem - durante os anos em que esteve sentado nos bancos escolares - nunca teve que se sujeitar à primeira tarefa do início dos anos letivos quer era escrever uma redação de como tinham sido suas férias? Se bem se lembram, quando éramos crianças, poucos de nós se viam constrangidos por excessiva timidez e desembestávamos a falar tão logo percebíamos que nos queriam ouvir, especialmente se isso significava participar do "mundo dos adultos", que nos vendiam como sendo especialmente misterioso por ser repleto de assuntos aos quais tínhamos aesso restrito. Top Secret. De um ponto de vista oficial-pedagógico, essas redações eram maneiras que as bem treinadas "tias" usavam para nos estimularem a exercitar o pensamento abstrato, a escrita e a valorização da tradição de "contar histórias". Do ponto de vista do cotidiano escolar, no entanto, era uma maneira poucas vezes eficaz de tentar direcionar nosso ímpeto comunicativo na relação concentrada do pensamento solitário em confronto com a folha de papel em branco. Apesar de tudo, a redação de início de ano era sempre o momento em que podíamos demonstrar a todos a capacidade que cada um tinha em divertir-se longe da escola sem esconder a ansiedade de voltar a ela rapidamente e contar a todo mundo suas próprias peripécias veranistas.
Mas não era isso que eu queria falar. Eu queria escrever, na verdade, sobre uma outra pergunta que sempre vinha em nossa mente a cada início de ano e que, se não a expressávamos verbalmente, tinha sempre um colega mais bocudo que a lançava ameaçadoramente ao professor responsável: afinal de contas, para que estudar História? Para que saber de um bando de povos do passado que já estão mortos se eu estou vivo e tenho que cuidar da minha vida no hoje e no agora? Quem nunca se fez essas perguntas ou nunca as ouviu serem proferidas pelos mais abusados?
Sem querer responder exaustivamente a estas perguntas, há curiosidades a respeito deste tema que gostaria de compartilhar com os efêmeros e desavisados visitantes deste desnecessário e gratuito blog. A história da linguagem - também conhecida como etimologia - nos reserva descobertas interessantes a respeito de alguns termos que usamos cotidianamente sem nos darmos conta dos possíveis significados encobertos que eles carregam em si.
Leandro Konder (filósofo brasileiro) escreve em seu livro "A Questão da Ideologia" alguns exemplos curiosos das origens de algumas palavras:
Sem querer responder exaustivamente a estas perguntas, há curiosidades a respeito deste tema que gostaria de compartilhar com os efêmeros e desavisados visitantes deste desnecessário e gratuito blog. A história da linguagem - também conhecida como etimologia - nos reserva descobertas interessantes a respeito de alguns termos que usamos cotidianamente sem nos darmos conta dos possíveis significados encobertos que eles carregam em si.
Leandro Konder (filósofo brasileiro) escreve em seu livro "A Questão da Ideologia" alguns exemplos curiosos das origens de algumas palavras:
- palavra "maluco" é uma derivação da palavra "Molucas", que é uma ilha invadida pelos portugueses no século XVI e cujos habitantes expulsaram os navegadores lusitanos à pauladas. Já naquela época os portugueses sofriam de uma certa lentidão no seu processo de compreenssão e não entenderam de pronto que sua suposta superioridade civilizatória são seria alcançada sem resistência; por isso, trataram os habitantes de Molucas como loucos, ou melhor, malucos.
- No império romano, as comunidades que se formavam afastadas das cidades eram conhecidas como "vilas" e seus moradores eram tidos como rústicos e grosseiros. As palavras "vilão" e "vilania" são derivações de "vila" e expressam o desprezo que os "cidadãos" tinham com relação aos homens do campo. Este mesmo desprezo pelo "popular" pode ser verificado em relação à palavra povo, que em latim é "vulgus" donde deriva a palavra "vulgar"; ou em relação ao povo reunido, que em latim é "turba", donde vêm "perturbar" e "turbulência";
- Também em latim, deixar-se ensinar é "docere", isto é, tornar-se dócil. Pedir é "rogare", isto é, demonstrar deferência e humildade, enquanto ousar reivindicar algo é "arrogare", donde vem a palavra "arrogância".
Todos estes são exemplos de como a utilização das palavras nunca é neutra e que se suas origens históricas são por si só sugestivas, não bastam para que seja daí retirado daí todo o conteúdo ideológico subjacente às mais variadas formas de construção textual ou uso discursivo da estrutura da linguagem.
Talvez ter isso em mente seja interessante sempre que nos pegamos concordando tácita e passivamente com aqueles discurssos que chamam de "baderneiros arrogantes" aqueles que ameaçadoramente ousam reivindicar algo ou invés de humildimente rogar pela boa disposição da consciência social daqueles que defendem laranjais, ao invés de seres humanos.
Talvez ter isso em mente seja interessante sempre que nos pegamos concordando tácita e passivamente com aqueles discurssos que chamam de "baderneiros arrogantes" aqueles que ameaçadoramente ousam reivindicar algo ou invés de humildimente rogar pela boa disposição da consciência social daqueles que defendem laranjais, ao invés de seres humanos.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
sábado, 12 de setembro de 2009
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
terça-feira, 28 de julho de 2009
"Um Capítulo para o ´Evangelho´" de José Saramago
"De mim se há-de dizer que depois da morte de Jesus me arrependi do que chamavam os meus infames pecados de prostituta e me converti em penitente até ao fim da vida, e isso não é verdade. Subiram-me despida aos altares, coberta unicamente pela cabeleira que me desce até aos joelhos, com os seios murchos e a boca desdentada, e se é certo que os anos acabaram por ressequir a lisa tersura da minha pele, isso só sucedeu porque neste mundo nada pode prevalecer contra o tempo, não porque eu tivesse desprezado e ofendido o mesmo corpo que Jesus desejou e possuiu. Quem aquelas falsidades vier a dizer de mim nada sabe de amor. Deixei de ser prostituta no dia em que Jesus entrou na minha casa trazendo-me a ferida do seu pé para que eu a curasse, mas dessas obras humanas a que chamam pecados de luxúria não teria eu que me arrepender se foi como prostituta que o meu amado me conheceu e, tendo provado o meu corpo e sabido de que vivia, não me virou as costas. Quando diante de todos os discípulos Jesus me beijava uma e muitas vezes, eles perguntaram-lhe porque me queria mais a mim que a eles, e Jesus respondeu: “A que se deve que eu não vos queira tanto como a ela?” Eles não souberam que dizer porque nunca seriam capazes de amar Jesus com o mesmo absoluto amor com que eu o amava. Depois de Lázaro ter morrido, o desgosto e a tristeza de Jesus foram tais que, uma noite, debaixo do lençol que tapava a nossa nudez, eu lhe disse: “Não posso alcançar-te onde estás porque te fechaste atrás de uma porta que não é para forças humanas”, e ele disse, queixa e gemido de animal que se escondeu para sofrer: “Ainda que não possas entrar, não te afastes de mim, tem-me sempre estendida a tua mão mesmo quando não puderes ver-me, se não o fizeres esquecer-me-ei da vida, ou ela me esquecerá”. E quando, alguns dias passados, Jesus foi reunir-se com os discípulos, eu, que caminhava a seu lado, disse-lhe: “Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe a ti”, e ele respondeu: “Quero estar onde estiver a minha sombra se lá é que estiverem os teus olhos”. Amávamo-nos e dizíamos palavras como estas, não apenas por serem belas e verdadeiras, se é possível serem uma coisa e outra ao mesmo tempo, mas porque pressentíamos que o tempo das sombras estava a chegar e era preciso que começássemos a acostumar-nos, ainda juntos, à escuridão da ausência definitiva. Vi Jesus ressuscitado e no primeiro momento julguei que aquele homem era o cuidador do jardim onde o túmulo se encontrava, mas hoje sei que não o verei nunca dos altares onde me puseram, por mais altos que eles sejam, por mais perto do céu que alcancem, por mais adornados de flores e olorosos de perfumes. A morte não foi o que nos separou, separou-nos para todo o sempre a eternidade. Naquele tempo, abraçados um ao outro, unidas pelo espírito e pela carne as nossas bocas, nem Jesus era então o que dele se proclamava, nem eu era o que de mim se escarnecia. Jesus, comigo, não foi o Filho de Deus, e eu, com ele, não fui a prostituta Maria de Magdala, fomos unicamente aquele homem e esta mulher, ambos estremecidos de amor e a quem o mundo rodeava como um abutre babado de sangue. Disseram alguns que Jesus havia expulsado sete demónios das minha entranhas, mas também isso não é verdade. O que Jesus fez, sim, foi despertar os sete anjos que dentro da minha alma dormiam à espera que ele me viesse pedir socorro: “Ajuda-me”. Foram os anjos que lhe curaram o pé, eles foram os que me guiaram as mãos trementes e limparam o pus da ferida, foram os que me puseram nos lábios a pergunta sem a qual Jesus não poderia ajudar-me a mim: “Sabes quem eu sou, o que faço, de que vivo”, e ele respondeu: “Sei”, “Não tiveste que olhar e ficaste a saber tudo”, disse eu, e ele respondeu: “Não sei nada”, e eu insisti: “Que sou prostituta”, “Isso sei”, “Que me deito com homens por dinheiro”, “Sim”, “Então sabes tudo de mim” e ele, com voz tranquila, como a lisa superfície de um lago murmurando, disse: “Sei só isso”. Então, eu ainda ignorava que ele fosse o filho de Deus, nem sequer imaginava que Deus quisesse ter um filho, mas, nesse instante, com a luz deslumbrante do entendimento pelo espírito, percebi que somente um verdadeiro Filho do Homem poderia ter pronunciado aquelas três palavras simples: “Sei só isso”. Ficámos a olhar um para o outro, nem tínhamos dado por que os anjos se tinham retirado já, e a partir dessa hora, pela palavra e pelo silêncio, pela noite e pelo dia, pelo sol e pela lua, pela presença e pela ausência, comecei a dizer a Jesus quem eu era, e ainda me faltava muito para chegar ao fundo de mim mesma quando o mataram. Sou Maria de Magdala e amei. Não há mais nada para dizer."
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Ebooks
Olá, queridos anônimos e mal-agradecidos visitantes. A partir de agora, colocarei, na medida da vontade e do tempo disponível, uma série de ebooks que tenho guardado.
Que seja útil!
Alifanfarrão.
Theodor Adorno - Teoria Estética
Arthur Rimbaud - Poesias Completas
Charles Baudelaire - Flores do Mal
Habermas - Ética do Discurso
José Saramago - As Intermitências da Morte
José Saramago - Ensaio sobre a Lucidez
Max Weber - A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
Theodor Adorno - Minima Moralia
Noam Chomsky - A Nova Guerra ao Terror
Noam Chomsky - O Lucro ou as Pessoas
Noam Chomsky - Os Caminhos do Poder
Perry Anderson - A Crise do Marxismo
Perry Anderson - Considerações sobre o Marxismo Ocidental
Que seja útil!
Alifanfarrão.
Theodor Adorno - Teoria Estética
Arthur Rimbaud - Poesias Completas
Charles Baudelaire - Flores do Mal
Habermas - Ética do Discurso
José Saramago - As Intermitências da Morte
José Saramago - Ensaio sobre a Lucidez
Max Weber - A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
Theodor Adorno - Minima Moralia
Noam Chomsky - A Nova Guerra ao Terror
Noam Chomsky - O Lucro ou as Pessoas
Noam Chomsky - Os Caminhos do Poder
Perry Anderson - A Crise do Marxismo
Perry Anderson - Considerações sobre o Marxismo Ocidental
terça-feira, 21 de julho de 2009
Estou Lendo: "Reificação e Utopia na Cultura de Massa" de Frederic Jameson
"Com essa mercantilização universal de nosso mundo objetivo, os conhecidos relatos sobre a direção-para-o-outro do consumo habitual contemporâneo e a sexualização de nossos objetos e atividades são também dados: o novo carro da moda é essencialmente uma imagem que outras pessoas devem ter de nós e consumimos, menos a coisa em si, mas sua idéia abstrata, aberta a todos os investimentos libidinais engenhosamente reunidos para nós pela propaganda" (p. 4).
Todos os Nomes
O velhinho é foda! A cada dia sou mais fã do Saramago. O último dele que eu li atende pela alcunha que dá título a esta postagem: "Todos os nomes". É a história de um auxiliar de escrita funcionário da Conservatória Geral do Registro Civil de uma cidade fictícia. Ficamos sabendo que o nome dele é Sr. José e este é o único nome próprio presente em todo o livro. A Conservatória Geral é a responsável por registrar, para todos os efeitos legais, as marcas oficiais da existência das pessoas por este mundo. Tão logo é expelida pelo parto, a pessoa ganha o mundo de presente e, para diferenciar-se dele, ganha um nome próprio, que - a despeito da e deliciosamente pela contradição - invariavelmente ele compartilha com muitas pessoas. Afinal de contas, mesmo Epitácios, Abelardos e Albéricos existem aos montes. Os sobrenomes seriam uma saída para possíveis cofusões e idiossincráticos encontros inesperados, mas sabemos também que mesmo eles se repetem e se combinam de maneira a nos pregar algumas das manjadas peças do acaso.
A história do nome próprio é engraçada. De tão pesada que se pode tornar a personalidade por conta de sua própria identidade, há quem prefira se refugiar - nem sempre por estar foragido pela polícia política das variadas matizes ditatoriais - em pseudônimos. Um outro português pode ser citado como exemplo: tão fracas as suas costas para aguentar o peso de sua personalidade, a combinação dos nomes "Fernando" + "Pessoa" foi, para ele, insuportável rótulo. E o poeta inventou, para dificultar seu encontro ou para compartilhar "consigos mesmos" o peso da unicidade da existência, outros tantos nomes. Só para variar.
Apesar disso, de toda nossa história, o mais que pode ficar depois de nós mesmos termos passado é o nosso nome e a obra a que ele se liga, ou não. O Registro Civil comprova e certifica que aqui nascemos, casamos (ou não) e morremos como Fulanos, Ribamares ou Asdrúbals. O que a gente fez neste interregno fica sob nossa responsabilidade, mas pouco importa para a Conservatória. Não é à toa, portanto, que o Sr. José, tomado de uma curiosidade que o tirará de sua sufocante rotina e diante de um "verbete" de uma mulher desconhecida, fará de tudo para tomar conhecimento da história que ela construiu na sua vida. E nisso ele encontra várias outras pessoas, que Saramago nos dispensa de apresentações. À exemplo do que acontece em "O Ensaio sobre a Cegueira" e em "O Ensaio sobre a Lucidez", conhecemos os personagens como "a mulher do rés-do-chão direito", "o conservador", o "oficial de registro civil", o "atendente da farmácia", a "mulher desconhecida", e assim por diante. O fato de não haver nomes não nos impede, no entanto, de conhecer os personagens. Assim como "o médico" e a "mulher do médico" ou a "rapariga dos óculos escuros", o que importa são as histórias dos personagens e o que eles fazem do contato que tem entre si quando Saramago os coloca frente a frente. Os diálogos entre desconhecidos são deliciosamente afetuosos e desconfiados, assim como é nossa vida: um misto de deslumbramente e medo diante do que fazer.
O Sr. José fica apaixonado. O amor é novamente a redenção, assim como o foi, por exemplo, na "História do Cerco de Lisboa", assim como tinha sido muito antes no "Crime e Castigo" do Dostoiévski. Mas o amor do Sr. José não é exatamente pela mulher desconhecida, mas pelo risco de encontrá-la. Ele se apaixona pela busca e treme diante da chance de de vê-la terminada.
É simples assim, como em outros livros. O que importa não é se há finais inesperados ou finais conclusivos. Os romances do Saramago não são como os livros de detetive que você "lê pelo fim", como se aquela quantidade enorme de páginas no interior do livro fosse apenas um meio para o autor nos "surpreender" com a identidade do criminoso. O que define este e outros romances do Saramago é a beleza com que ele descreve situações de vida, isto é, linha por linha, frase por frase são saboreadas em sua harmonia interna. O fim do romance não precisa ser dramático ou happy ending, pois, o fim, todos sabemos como termina: na morte. O que importa é o que fazemos antes que ela sorrateiramente nos venha puxar pelos calcanhares.
A história do nome próprio é engraçada. De tão pesada que se pode tornar a personalidade por conta de sua própria identidade, há quem prefira se refugiar - nem sempre por estar foragido pela polícia política das variadas matizes ditatoriais - em pseudônimos. Um outro português pode ser citado como exemplo: tão fracas as suas costas para aguentar o peso de sua personalidade, a combinação dos nomes "Fernando" + "Pessoa" foi, para ele, insuportável rótulo. E o poeta inventou, para dificultar seu encontro ou para compartilhar "consigos mesmos" o peso da unicidade da existência, outros tantos nomes. Só para variar.
Apesar disso, de toda nossa história, o mais que pode ficar depois de nós mesmos termos passado é o nosso nome e a obra a que ele se liga, ou não. O Registro Civil comprova e certifica que aqui nascemos, casamos (ou não) e morremos como Fulanos, Ribamares ou Asdrúbals. O que a gente fez neste interregno fica sob nossa responsabilidade, mas pouco importa para a Conservatória. Não é à toa, portanto, que o Sr. José, tomado de uma curiosidade que o tirará de sua sufocante rotina e diante de um "verbete" de uma mulher desconhecida, fará de tudo para tomar conhecimento da história que ela construiu na sua vida. E nisso ele encontra várias outras pessoas, que Saramago nos dispensa de apresentações. À exemplo do que acontece em "O Ensaio sobre a Cegueira" e em "O Ensaio sobre a Lucidez", conhecemos os personagens como "a mulher do rés-do-chão direito", "o conservador", o "oficial de registro civil", o "atendente da farmácia", a "mulher desconhecida", e assim por diante. O fato de não haver nomes não nos impede, no entanto, de conhecer os personagens. Assim como "o médico" e a "mulher do médico" ou a "rapariga dos óculos escuros", o que importa são as histórias dos personagens e o que eles fazem do contato que tem entre si quando Saramago os coloca frente a frente. Os diálogos entre desconhecidos são deliciosamente afetuosos e desconfiados, assim como é nossa vida: um misto de deslumbramente e medo diante do que fazer.
O Sr. José fica apaixonado. O amor é novamente a redenção, assim como o foi, por exemplo, na "História do Cerco de Lisboa", assim como tinha sido muito antes no "Crime e Castigo" do Dostoiévski. Mas o amor do Sr. José não é exatamente pela mulher desconhecida, mas pelo risco de encontrá-la. Ele se apaixona pela busca e treme diante da chance de de vê-la terminada.
É simples assim, como em outros livros. O que importa não é se há finais inesperados ou finais conclusivos. Os romances do Saramago não são como os livros de detetive que você "lê pelo fim", como se aquela quantidade enorme de páginas no interior do livro fosse apenas um meio para o autor nos "surpreender" com a identidade do criminoso. O que define este e outros romances do Saramago é a beleza com que ele descreve situações de vida, isto é, linha por linha, frase por frase são saboreadas em sua harmonia interna. O fim do romance não precisa ser dramático ou happy ending, pois, o fim, todos sabemos como termina: na morte. O que importa é o que fazemos antes que ela sorrateiramente nos venha puxar pelos calcanhares.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
quinta-feira, 2 de julho de 2009
terça-feira, 30 de junho de 2009
domingo, 28 de junho de 2009
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Aforismos: José Saramago II
- "é bem certo que os paraísos não são todos iguais, há-os com huris e sem huris, porém, para sabermos em que paraíso estamos basta que nos deixem espreitar à porta. Uma parede que proteja da nortada, um telhado que defenda da chuva e do sereno, e pouco mais é preciso para viver no maior conforto do mundo. Ou nas delícias do paraíso".
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Garotos Podres - A Internacional (ao vivo e legendado)
Das barricadas da Comuna de Paris ao punk rock dos subúrbios do ABC!
terça-feira, 16 de junho de 2009
Estou Lendo: "Manuscritos Econômico-Filosóficos" de Karl Marx
Marx antecipa em alguns anos a tese weberiana do “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, ao considerar que juntamente ao aumento das carências a economia política clássica promove o esvaziamento das carências humanas e dos meios para satisfaze-las como princípio moral por excelência ao calcular “a vida mais escassa possível como norma”. E prossegue logo depois: “A economia nacional, esta ciência da riqueza é, por isso, ao mesmo tempo, ciência do renunciar, da indigência, da poupança e ela chega efetivamente a poupar ao homem a carência de ar puro ou de movimento físico. Esta ciência da indústria maravilhosa é, simultaneamente, a ciência da ascese e seu verdadeiro ideal é o avarento ascético, mas usurário, e o escravo ascético, mas producente. O seu ideal moral é o trabalhador que leva uma parte de seu salário à caixa econômica (...). A auto-renúncia, a renúncia à vida, a todas as carências humanas, é a sua tese principal. Quanto menos comeres, beberes, comprares livros, fores ao teatro, ao baile, ao restaurante, pensares, amares, teorizares, cantares, pintares, esgrimires etc., tanto mais tu poupas, tanto maior se tornará o seu tesouro que nem as traças nem o roubo corroem, teu capital. (...) Tudo o que o economista nacional te arranca de vida e de humanidade, ele te supre em dinheiro e riqueza” (p. 141-142).
O ascetismo da economia nacional chega ao seu clímax na teoria da população, quando esta afirma haver seres humanos demais. Segue Marx: “até mesmo a existência dos homem é um puro luxo, e se o trabalhador é ´moral´ (Mill sugere louvores públicos para aqueles que se mostrarem abstinentes nas relações sexuais e repreensões públicas para aqueles que pecam contra esta esterilidade do casamento... não é isto moral, doutrina da ascese?) será poupado na procriação. A produção do homem aparece como miséria pública” (p. 143).
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Estou Lendo: "Manuscritos Econômico-Filosóficos" de Karl Marx
“(...) quem gerou o primeiro ser humano e a natureza em geral?
Só posso responder-te: a tua pergunta é, ela mesma, um produto da abstração. Pergunta-te como chegas àquela pergunta; interroga-te se a tua pergunta não ocorre a partir de um ponto de vista ao qual não posso responder porque ele é um ponto de vista invertido. Pergunte-te se aquele progresso como tal existe para um pensar racional. Ser tu te perguntas pela criação da natureza e do ser humano, abstrais, portanto, do ser humano e da natureza. Tu os assentas como não-sendo e ainda queres, contudo, que eu te os prove como sendo. Digo-te eu, agora: se renuncias à tua abstração, sê então conseqüente, e quando pensando pensas o ser humano e a natureza como não-sendo | |XI|, então pensa-te a ti mesmo como não-sendo, tu que também és natureza e ser humano. Não penses, não me perguntes, pois, tão logo pensas e perguntas, tua abstração do ser da natureza e do homem não tem sentido algum. Ou és um tal egoísta que assentas tudo como nada e queres, tu mesmo, ser?
Tu replicar podes a mim: eu não quero assentar o nada da natureza etc.; pergunto-te pelo ato de surgimento dela, assim como pergunto ao anatomista pela formação dos ossos etc.
Mas, na medida em que, para o homem socialista, toda a assim denominada história mundial nada mais é do que o engendramento do homem mediante o trabalho humano, enquanto o vir a ser da natureza para o homem, então ele tem, portanto, a prova intuitiva, irresistível, do seu nascimento por meio de si mesmo, do seu processo de geração. Na medida em que a essencialidade (Wesenhaftigkeit) do ser humano e da natureza se tornou prática, sensivelmente intuível; na medida em que o homem [se tornou prática, sensivelmente intuível] para o homem enquanto existência da natureza, e a natureza para o homem enquanto existência do homem, a pergunta por um ser estranho, por um ser acima da natureza e do homem – uma pergunta que contém a confissão da inessencialidade da natureza e do homem - tornou-se praticamente impossível. O ateísmo, enquanto rejeição (Leugnung) dessa inessencialidade, não tem mais sentido algum, pois o ateísmo é uma negação de Deus e assenta, por intermédio dessa negação, a existência do homem; mas o socialismo enquanto socialismo não carece mais de uma tal mediação; ele começa a partir da consciência teorética e praticamente sensível do homem e da natureza como [consciência] do ser. Ele é consciência de si positiva do homem não mais mediada pela superação da religião, assim como a vida efetiva é a efetividade positiva do homem não mais mediada pela supra-sunção da propriedade privada, o comunismo. O comunismo é a posição como negação da negação, e por isso o momento efetivo necessário da emancipação e da recuperação humanas para o próximo desenvolvimento histórico. O comunismo é a figura necessária e o princípio energético do futuro próximo, mas o comunismo não é, como tal, o termo do desenvolvimento humano – a figura da sociedade humana” (p. 114).
Só posso responder-te: a tua pergunta é, ela mesma, um produto da abstração. Pergunta-te como chegas àquela pergunta; interroga-te se a tua pergunta não ocorre a partir de um ponto de vista ao qual não posso responder porque ele é um ponto de vista invertido. Pergunte-te se aquele progresso como tal existe para um pensar racional. Ser tu te perguntas pela criação da natureza e do ser humano, abstrais, portanto, do ser humano e da natureza. Tu os assentas como não-sendo e ainda queres, contudo, que eu te os prove como sendo. Digo-te eu, agora: se renuncias à tua abstração, sê então conseqüente, e quando pensando pensas o ser humano e a natureza como não-sendo | |XI|, então pensa-te a ti mesmo como não-sendo, tu que também és natureza e ser humano. Não penses, não me perguntes, pois, tão logo pensas e perguntas, tua abstração do ser da natureza e do homem não tem sentido algum. Ou és um tal egoísta que assentas tudo como nada e queres, tu mesmo, ser?
Tu replicar podes a mim: eu não quero assentar o nada da natureza etc.; pergunto-te pelo ato de surgimento dela, assim como pergunto ao anatomista pela formação dos ossos etc.
Mas, na medida em que, para o homem socialista, toda a assim denominada história mundial nada mais é do que o engendramento do homem mediante o trabalho humano, enquanto o vir a ser da natureza para o homem, então ele tem, portanto, a prova intuitiva, irresistível, do seu nascimento por meio de si mesmo, do seu processo de geração. Na medida em que a essencialidade (Wesenhaftigkeit) do ser humano e da natureza se tornou prática, sensivelmente intuível; na medida em que o homem [se tornou prática, sensivelmente intuível] para o homem enquanto existência da natureza, e a natureza para o homem enquanto existência do homem, a pergunta por um ser estranho, por um ser acima da natureza e do homem – uma pergunta que contém a confissão da inessencialidade da natureza e do homem - tornou-se praticamente impossível. O ateísmo, enquanto rejeição (Leugnung) dessa inessencialidade, não tem mais sentido algum, pois o ateísmo é uma negação de Deus e assenta, por intermédio dessa negação, a existência do homem; mas o socialismo enquanto socialismo não carece mais de uma tal mediação; ele começa a partir da consciência teorética e praticamente sensível do homem e da natureza como [consciência] do ser. Ele é consciência de si positiva do homem não mais mediada pela superação da religião, assim como a vida efetiva é a efetividade positiva do homem não mais mediada pela supra-sunção da propriedade privada, o comunismo. O comunismo é a posição como negação da negação, e por isso o momento efetivo necessário da emancipação e da recuperação humanas para o próximo desenvolvimento histórico. O comunismo é a figura necessária e o princípio energético do futuro próximo, mas o comunismo não é, como tal, o termo do desenvolvimento humano – a figura da sociedade humana” (p. 114).
quinta-feira, 11 de junho de 2009
sexta-feira, 5 de junho de 2009
sexta-feira, 29 de maio de 2009
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Belle e Sebastian - Fans Only (2003)
Pessoal, seguem abaixo os links para download do documentário da Belle e Sebastian.
http://rapidshare.com/files/90902809/Belle.and.Sebastian-Fans.Only.2003.part01.rar
http://rapidshare.com/files/90910174/Belle.and.Sebastian-Fans.Only.2003.part02.rar
http://rapidshare.com/files/90917742/Belle.and.Sebastian-Fans.Only.2003.part03.rar
http://rapidshare.com/files/90926098/Belle.and.Sebastian-Fans.Only.2003.part04.rar
http://rapidshare.com/files/90934701/Belle.and.Sebastian-Fans.Only.2003.part05.rar
http://rapidshare.com/files/90942817/Belle.and.Sebastian-Fans.Only.2003.part06.rar
http://rapidshare.com/files/90951095/Belle.and.Sebastian-Fans.Only.2003.part07.rar
http://rapidshare.com/files/90960140/Belle.and.Sebastian-Fans.Only.2003.part08.rar
http://rapidshare.com/files/90968872/Belle.and.Sebastian-Fans.Only.2003.part09.rar
http://rapidshare.com/files/90977744/Belle.and.Sebastian-Fans.Only.2003.part10.rar
http://rapidshare.com/files/90987464/Belle.and.Sebastian-Fans.Only.2003.part11.rar
http://rapidshare.com/files/90996655/Belle.and.Sebastian-Fans.Only.2003.part12.rar
http://rapidshare.com/files/91005049/Belle.and.Sebastian-Fans.Only.2003.part13.rar
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Senha: xMediaPlanet.com
Legendas em português (BR)
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Senha: xMediaPlanet.com
Legendas em português (BR)
Créditos: hotfilms.org
Estou Lendo: "Trabalho e Proletariado no Capitalismo Contemporâneo" de Sergio Lessa
- "A finalidade imediata do trabalho abstrato é a produção da mais-valia antes que a produção dos valore-de-uso necessários à vida humana. Esta submissão das necessidades humanas às necessidades da reprodução do capital é, todavia, apenas a expressão condensada das alienações típicas do capital, e não cancela o fato ontológico de que sem a transformação da natureza nos meios de produção e de subsistência sequer o capital poderia existir. O fato de cada capitalista buscar o maior lucro possível, não importando se obtém sua propriedade privada no intercâmbio orgânico com a natureza ou em outros negócios, é apenas a expressão alienada da vida sob o capital, vida alienada que tende a velar que sem o trabalho proletário nenhuma riqueza burguesa seria possível".
- "Mesmo que, numa hipótese absurda, imaginemos a felicidade de toda a produção de meios de trabalho e subsistência ser realizada por máquinas automáticas, que não apenas consertam a si próprias, como ainda sejam capazes de, digamos, ´aprender´ e promover o seu próprio desenvolvimento, restando à humanidade que um único indivíduo, a cada dez anos, aperte um botão para iniciar ou interromper a produção - mesmo neste caso absurdamente feliz para a humanidade, o ato de ligar e desligar seria o trabalho que fundaria toda a sociabilidade. E seria, claro está, um ato de trabalho manual".
Estou lendo: "A Ideologia Alemã" de Marx e Engels
- "A maneira pela qual os indivíduos manifestam a sua vida reflete muito exatamente o que são. O que eles são coincide, portanto, com sua produção, tanto com o que produzem quanto com a maneira pela qual o produzem. O que os indivíduos são depende, portanto, das condições de sua produção".
- "(...) não se deve compreender estes três aspectos da atividade social [produção dos meios para satisfação das necessidades, ampliação dessas necessidades e reprodução sexual dos homens e família] como estágios diferentes, mas precisamente como três aspectos, simplesmente; ou, para empregar uma linguagem clara para os alemães, três ´momentos´, que coexistiram desde o início da história e desde os primeiros homens e que se afirmam ainda hoje na história".
- "Esta fixação da atividade social, esta consolidação do nosso próprio produto numa potência objetiva que nos domina, fugindo ao nosso controle, contrariando nossas expectativas, reduzindo a zero os nossos cálculos, é um dos momentos capitais no desenvolvimento histórico, até nossos dias".
terça-feira, 26 de maio de 2009
sábado, 23 de maio de 2009
segunda-feira, 27 de abril de 2009
quinta-feira, 9 de abril de 2009
quinta-feira, 12 de março de 2009
Mallu Magalhães (2008)
Frequentemente, ouve-se falar que o rock não é apenas música, mas também atitude ou estilo de vida, o que seria mais um elemento que o diferenciaria de outros estilos "puramente" músicais, se é que isso de fato existe. John McCrea (vocalista do Cake) já tratou disso ironicamente em uma de suas músicas (em Rock And Roll Lifestyle). O grande risco que se corre é a relevância dada ao componente "estilo de vida" do rock poder ter uma tendência a maximizar-se e tornar-se independente da própria música, abrindo precedentes para que surjam fenômenos como o emocore e seus adeptos - com suas roupas, cabelos, pranchas, pulseiras e simples distorções de guitarra - reinvindicando para si o título de rockeiros do momento.
Digo isso, porque não tem nada mais oposto da figura tradicional do rockeiro e da rockeira do que a Mallu Magalhães. Sabe-se que o rock pega as pessoas já pela tenra idade, mas, segundo o padrão tradicional, essas pessoas têm que se submeter a uma espécie de rito de passagem, onde aprende-se a experimentar drogas das mais variadas, ter predileção por uma aparência mais desleixada ou intencionalmente casual (de preferência, com uso de roupas com tons mais escuros), personificarem a filosofia do carpe diem radical e ter um forte senso de auto-destruição. Uma das figuras femininas mais célebres é a Joan Jett, que traz consigo ainda o tom provocativo do timbre vocal. A Mallu Magalhães não tem nada disso e, a despeito das discordâncias que possam surgir sobre sua música, tem suas influências marcadamente no rock. E como não ser flagrado em repentes de ternura ao ouvir sua voz de menina?
Bem, o que de fato me gera curiosidade é tentar imaginar como seria se o reconhecimento da Mallu viesse mais tarde, por exemplo, aos 25 anos, depois de ter passado por todos os passos do rock and roll: das bandas de garagem, às casas noturnas e suas mais diretas consequências. Qual seria o seu apelo?
Downloadeie este disco
Digo isso, porque não tem nada mais oposto da figura tradicional do rockeiro e da rockeira do que a Mallu Magalhães. Sabe-se que o rock pega as pessoas já pela tenra idade, mas, segundo o padrão tradicional, essas pessoas têm que se submeter a uma espécie de rito de passagem, onde aprende-se a experimentar drogas das mais variadas, ter predileção por uma aparência mais desleixada ou intencionalmente casual (de preferência, com uso de roupas com tons mais escuros), personificarem a filosofia do carpe diem radical e ter um forte senso de auto-destruição. Uma das figuras femininas mais célebres é a Joan Jett, que traz consigo ainda o tom provocativo do timbre vocal. A Mallu Magalhães não tem nada disso e, a despeito das discordâncias que possam surgir sobre sua música, tem suas influências marcadamente no rock. E como não ser flagrado em repentes de ternura ao ouvir sua voz de menina?
Bem, o que de fato me gera curiosidade é tentar imaginar como seria se o reconhecimento da Mallu viesse mais tarde, por exemplo, aos 25 anos, depois de ter passado por todos os passos do rock and roll: das bandas de garagem, às casas noturnas e suas mais diretas consequências. Qual seria o seu apelo?
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Luís Fernando Veríssimo - Onde Estamos
Exemplo de aplicação divertidíssima a la Veríssimo do princípio de desconfiança de Bertold Brecht. Segue o texto:
De tanto repetirem que o Brasil não é a Rússia, comecei a desconfiar. Será que não é? Este governo tem-se esforçado para nos convencer de que o Brasil que a gente vê não é o Brasil de verdade, é outro país. E se é outro país, por que não pode ser a Rússia? Agora, toda vez que eu
saio de casa e dou com o Brasil que a propaganda do governo diz que não é o Brasil, começo a prestar atenção. Se não é o Brasil, que país é este? Onde, afinal, nós estamos?
Não se vê nenhum sinal ostensivo de que estamos na Rússia. Os indícios, se existem, estão muito bem camuflados. Neva em alguns lugares do Sul do Brasil, no inverno, mas nada comparável à Rússia, onde neva em toda parte a toda hora. Mas quem nos assegura que o próprio clima tropical não faz parte da dissimulação? Se o Brasil é mesmo tão tropical assim, por que tem que fazer tanto calor com tanta freqüência, como se estivessem preocupados em enfatizar justamente a nossa diferença da Rússia? O mesmo pode ser dito da nossa paisagem, tão convenientemente o oposto das estepes russas. Conveniente demais.
Alguns cartazes que você vê na rua têm as letras invertidas — como se sabe, russo é de trás para diante — mas aí não é russo, é erro de português mesmo. Ou serão recaídas no alfabeto russo por dissimuladores distraídos? Há muita coisa escrita em inglês, o que também é suspeito. Durante muito tempo, Rússia e Estados Unidos foram arquiinimigos. Se você quisesse convencer alguém de que o Brasil definitivamente não é a Rússia, não tem jeito de ser a Rússia, é até uma anti-Rússia, qual seria a melhor maneira de fazer isso? Convencendo-o de que o Brasil é os Estados Unidos, claro. Quanto mais vejo apóstrofes, nomes em inglês, filmes americanos e mac-chickens, mais me convenço de que estamos na Rússia.
Outra coisa: a imprensa. Tentam disfarçar, mas a imprensa Dbrasileira cada vez mais se parece com a imprensa russa. A própria insistência com que nos dizem que o Brasil não é a Rússia reforça a desconfiança de que estamos na Rússia, pois a imprensa russa não fazia outra coisa senão tentar convencer os russos de que o país que eles viam também não era a Rússia, que a Rússia de verdade era a da propaganda do governo. Quanto mais os jornais nos asseguram que o Brasil não é a Rússia, mais desconfiamos de que estamos lendo versões do Pravda com as letras trocadas.
Há outras semelhanças que fazem pensar e desconfiar. Nós também saímos de um período de economia dirigida para um período de economia aberta que culmina com um período de economia mafiosa, com a única diferença que a máfia russa — realizando um sonho das máfias de todo o mundo, que até agora não tinham passado da bazuca — tem armas nucleares. No Brasil, como na Rússia, também há gangues organizadas brigando pelo espólio do estatismo enquanto o povo fica à parte, convencido pela propaganda do governo que o dele já vem. E tanto lá como aqui, se é que aqui não é lá, tudo se deve a uma rendição incondicional a um charlatão oxigenado chamado Mercado, que teria as respostas para tudo.
Sei não, numa dessas caem os disfarces e se revela que o Brasil é, sim, a Rússia. Como o inverno russo se aproxima, acho que vou comprar um gorro de pele. Pelo menos salvo as orelhas.
De tanto repetirem que o Brasil não é a Rússia, comecei a desconfiar. Será que não é? Este governo tem-se esforçado para nos convencer de que o Brasil que a gente vê não é o Brasil de verdade, é outro país. E se é outro país, por que não pode ser a Rússia? Agora, toda vez que eu
saio de casa e dou com o Brasil que a propaganda do governo diz que não é o Brasil, começo a prestar atenção. Se não é o Brasil, que país é este? Onde, afinal, nós estamos?
Não se vê nenhum sinal ostensivo de que estamos na Rússia. Os indícios, se existem, estão muito bem camuflados. Neva em alguns lugares do Sul do Brasil, no inverno, mas nada comparável à Rússia, onde neva em toda parte a toda hora. Mas quem nos assegura que o próprio clima tropical não faz parte da dissimulação? Se o Brasil é mesmo tão tropical assim, por que tem que fazer tanto calor com tanta freqüência, como se estivessem preocupados em enfatizar justamente a nossa diferença da Rússia? O mesmo pode ser dito da nossa paisagem, tão convenientemente o oposto das estepes russas. Conveniente demais.
Alguns cartazes que você vê na rua têm as letras invertidas — como se sabe, russo é de trás para diante — mas aí não é russo, é erro de português mesmo. Ou serão recaídas no alfabeto russo por dissimuladores distraídos? Há muita coisa escrita em inglês, o que também é suspeito. Durante muito tempo, Rússia e Estados Unidos foram arquiinimigos. Se você quisesse convencer alguém de que o Brasil definitivamente não é a Rússia, não tem jeito de ser a Rússia, é até uma anti-Rússia, qual seria a melhor maneira de fazer isso? Convencendo-o de que o Brasil é os Estados Unidos, claro. Quanto mais vejo apóstrofes, nomes em inglês, filmes americanos e mac-chickens, mais me convenço de que estamos na Rússia.
Outra coisa: a imprensa. Tentam disfarçar, mas a imprensa Dbrasileira cada vez mais se parece com a imprensa russa. A própria insistência com que nos dizem que o Brasil não é a Rússia reforça a desconfiança de que estamos na Rússia, pois a imprensa russa não fazia outra coisa senão tentar convencer os russos de que o país que eles viam também não era a Rússia, que a Rússia de verdade era a da propaganda do governo. Quanto mais os jornais nos asseguram que o Brasil não é a Rússia, mais desconfiamos de que estamos lendo versões do Pravda com as letras trocadas.
Há outras semelhanças que fazem pensar e desconfiar. Nós também saímos de um período de economia dirigida para um período de economia aberta que culmina com um período de economia mafiosa, com a única diferença que a máfia russa — realizando um sonho das máfias de todo o mundo, que até agora não tinham passado da bazuca — tem armas nucleares. No Brasil, como na Rússia, também há gangues organizadas brigando pelo espólio do estatismo enquanto o povo fica à parte, convencido pela propaganda do governo que o dele já vem. E tanto lá como aqui, se é que aqui não é lá, tudo se deve a uma rendição incondicional a um charlatão oxigenado chamado Mercado, que teria as respostas para tudo.
Sei não, numa dessas caem os disfarces e se revela que o Brasil é, sim, a Rússia. Como o inverno russo se aproxima, acho que vou comprar um gorro de pele. Pelo menos salvo as orelhas.
(Extraído do Livro "Aquele Estranho Dia Que Nunca Chega", a "Era Éfe Agá", pp. 13-14)
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
A Ópera (Capítulo IX de "Dom Casmurro)
Já não tinha voz, mas teimava em dizer que a tinha. “O desuso é que me faz mal”, acrescentava. Sempre que uma companhia nova chegava da Europa, ia ao empresário e expunha-lhe toda as injustiças da terra e do céu; o empresário cometia mais uma, e ele saía a bradar contra a iniqüidade.Trazia ainda os bigodes dos seus papéis. Quando andava, apesar de velho, parecia cortejar uma princesa de Babilônia. Às vezes, cantarolava, sem abrir a boca, algum trecho ainda mais idoso que ele ou tanto; vozes assim abafadas são sempre possíveis. Vinha aqui jantar comigo algumas vezes.
Uma noite, depois de muito Chianti, repetiu-me a definição do costume, e como eu lhe dissesse que a vida tanto podia ser uma ópera como uma viagem de mar ou uma batalha, abanou a cabeça e replicou:
— A vida é uma ópera e uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a orquestração é excelente...
— Mas, meu caro Marcolini...
— Quê?...
E, depois de beber um gole de licor, pousou o cálix, e expôs-me a história da criação, com palavras que vou resumir.
Deus é o poeta. A música é de Satanás, jovem maestro de muito futuro, que aprendeu no conservatório do céu. Rival de Miguel, Rafael e Gabriel, não tolerava a precedência que eles tinham na distribuição dos prêmios. Pode ser também que a música em demasia doce e mística daqueles outros condiscípulos fosse aborrecível ao seu gênio essencialmente trágico. Tramou uma rebelião que foi descoberta a tempo, e ele expulso do conservatório. Tudo se teria passado sem mais nada, se Deus não houvesse escrito um libreto de ópera, do qual abrira mão, por entender que tal gênero de recreio era impróprio da sua eternidade. Satanás levou o manuscrito consigo para o inferno. Com o fim de mostrar que valia mais que os outros — e acaso para reconciliar-se com o céu —, compôs a partitura, e logo que a acabou foi levá-la ao Padre Eterno.
— Senhor, não desaprendi as lições recebidas, disse-lhe. Aqui tendes a partitura, escutai-a, emendai-a, fazei-a executar, e se a achardes digna das alturas, admiti-me com ela a vossos pés...
— Não, retorquiu o Senhor, não quero ouvir nada.
— Mas, senhor...
— Nada! nada!
Satanás suplicou ainda, sem melhor fortuna, até que Deus, cansado e cheio de misericórdia, consentiu em que a ópera fosse executada, mas fora do céu. Criou um teatro especial, este planeta, e inventou uma companhia inteira, com todas as partes, primárias e comprimárias, coros e bailarinos.
— Ouvi agora alguns ensaios!
— Não, não quero saber de ensaios. Basta-me haver composto o libreto; estou pronto a dividir contigo os direitos de autor.
Foi talvez um mal esta recusa; dela resultaram alguns desconcertos que a audiência prévia e a colaboração amiga teriam evitado. Com efeito, há lugares em que o verso vai para a direita e a música para a esquerda. Não falta quem diga que nisso mesmo está a beleza da composição, ugindo à monotonia, e assim explicam o terceto do Éden, a ária de Abel, os coros da guilhotina e da escravidão. Não é raro que os mesmos lances se reproduzam, sem razão suficiente. Certos motivos cansam à forç de repetição. Também há obscuridades; o maestro abusa das massas corais, encobrindo muita vez o sentido por um modoconfuso. As partes orquestrais são aliás tratadas com grande perícia. Tal é a opinião dos imparciais.
Os amigos do maestro querem que dificilmente se possa achar obra tão bem acabada. Um ou outro admite certas rudezas e tais ou quais lacunas, mas com o andar da ópera é provável que estas sejam preenchidas ou explicadas, e aquelas desapareçam inteiramente, não se negando o maestro a emendar a obra onde achar que não responde de todo ao pensamento sublime do poeta. Já não dizem o mesmo os amigos deste.
Juram que o libreto foi sacrificado, que a partitura corrompeu o sentido da letra, e, posto seja bonita em alguns lugares, e trabalhada com arte em outros, é absolutamente diversa e até contrária ao drama. O grotesco, por exemplo, não está no texto do poeta; é uma excrescência para imitar as Mulheres patuscas de Windsor. Este ponto é contestado pelos satanistas com alguma aparência de razão. Dizem eles que, ao tempo em que o jovem Satanás compôs a grande ópera, nem essa farsa nem Shakespeare eram nascidos. Chegam a afirmar que o poeta inglês não teve outro gênio senão transcrever a letra da ópera, com tal arte e fidelidade, que parece ele próprio o autor da composição; mas, evidentemente, é um plagiário.
— Esta peça, concluiu o velho tenor, durará enquanto durar o teatro, não se podendo calcular em que tempo será ele demolido por utilidade astronômica. O êxito é crescente. Poeta e músico recebem pontualmente os seus direitos autorais, que não são os mesmos, porque a regra da divisão é aquilo da Escritura: “Muitos são os chamados, poucos os escolhidos”. Deus recebe em ouro, Satanás em papel.
— Tem graça...
Graça? bradou ele com fúria; mas aquietou-se logo, e replicou:
— Caro Santiago, eu não tenho graça, eu tenho horror à graça. Isto que digo é a verdade pura e última. Um dia, quando todos os livros forem queimados por inúteis, há de haver alguém, pode ser que tenor, e talvez italiano, que ensine esta verdade aos homens. Tudo é música, meu amigo. No princípio era o dó, e o dó fez-se ré etc. Este cálix (e enchia-o novamente), este cálix é um breve estribilho. Não se ouve? Também não se ouve o pau nem a pedra, mas tudo cabe na mesma ópera...
Uma noite, depois de muito Chianti, repetiu-me a definição do costume, e como eu lhe dissesse que a vida tanto podia ser uma ópera como uma viagem de mar ou uma batalha, abanou a cabeça e replicou:
— A vida é uma ópera e uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a orquestração é excelente...
— Mas, meu caro Marcolini...
— Quê?...
E, depois de beber um gole de licor, pousou o cálix, e expôs-me a história da criação, com palavras que vou resumir.
Deus é o poeta. A música é de Satanás, jovem maestro de muito futuro, que aprendeu no conservatório do céu. Rival de Miguel, Rafael e Gabriel, não tolerava a precedência que eles tinham na distribuição dos prêmios. Pode ser também que a música em demasia doce e mística daqueles outros condiscípulos fosse aborrecível ao seu gênio essencialmente trágico. Tramou uma rebelião que foi descoberta a tempo, e ele expulso do conservatório. Tudo se teria passado sem mais nada, se Deus não houvesse escrito um libreto de ópera, do qual abrira mão, por entender que tal gênero de recreio era impróprio da sua eternidade. Satanás levou o manuscrito consigo para o inferno. Com o fim de mostrar que valia mais que os outros — e acaso para reconciliar-se com o céu —, compôs a partitura, e logo que a acabou foi levá-la ao Padre Eterno.
— Senhor, não desaprendi as lições recebidas, disse-lhe. Aqui tendes a partitura, escutai-a, emendai-a, fazei-a executar, e se a achardes digna das alturas, admiti-me com ela a vossos pés...
— Não, retorquiu o Senhor, não quero ouvir nada.
— Mas, senhor...
— Nada! nada!
Satanás suplicou ainda, sem melhor fortuna, até que Deus, cansado e cheio de misericórdia, consentiu em que a ópera fosse executada, mas fora do céu. Criou um teatro especial, este planeta, e inventou uma companhia inteira, com todas as partes, primárias e comprimárias, coros e bailarinos.
— Ouvi agora alguns ensaios!
— Não, não quero saber de ensaios. Basta-me haver composto o libreto; estou pronto a dividir contigo os direitos de autor.
Foi talvez um mal esta recusa; dela resultaram alguns desconcertos que a audiência prévia e a colaboração amiga teriam evitado. Com efeito, há lugares em que o verso vai para a direita e a música para a esquerda. Não falta quem diga que nisso mesmo está a beleza da composição, ugindo à monotonia, e assim explicam o terceto do Éden, a ária de Abel, os coros da guilhotina e da escravidão. Não é raro que os mesmos lances se reproduzam, sem razão suficiente. Certos motivos cansam à forç de repetição. Também há obscuridades; o maestro abusa das massas corais, encobrindo muita vez o sentido por um modoconfuso. As partes orquestrais são aliás tratadas com grande perícia. Tal é a opinião dos imparciais.
Os amigos do maestro querem que dificilmente se possa achar obra tão bem acabada. Um ou outro admite certas rudezas e tais ou quais lacunas, mas com o andar da ópera é provável que estas sejam preenchidas ou explicadas, e aquelas desapareçam inteiramente, não se negando o maestro a emendar a obra onde achar que não responde de todo ao pensamento sublime do poeta. Já não dizem o mesmo os amigos deste.
Juram que o libreto foi sacrificado, que a partitura corrompeu o sentido da letra, e, posto seja bonita em alguns lugares, e trabalhada com arte em outros, é absolutamente diversa e até contrária ao drama. O grotesco, por exemplo, não está no texto do poeta; é uma excrescência para imitar as Mulheres patuscas de Windsor. Este ponto é contestado pelos satanistas com alguma aparência de razão. Dizem eles que, ao tempo em que o jovem Satanás compôs a grande ópera, nem essa farsa nem Shakespeare eram nascidos. Chegam a afirmar que o poeta inglês não teve outro gênio senão transcrever a letra da ópera, com tal arte e fidelidade, que parece ele próprio o autor da composição; mas, evidentemente, é um plagiário.
— Esta peça, concluiu o velho tenor, durará enquanto durar o teatro, não se podendo calcular em que tempo será ele demolido por utilidade astronômica. O êxito é crescente. Poeta e músico recebem pontualmente os seus direitos autorais, que não são os mesmos, porque a regra da divisão é aquilo da Escritura: “Muitos são os chamados, poucos os escolhidos”. Deus recebe em ouro, Satanás em papel.
— Tem graça...
Graça? bradou ele com fúria; mas aquietou-se logo, e replicou:
— Caro Santiago, eu não tenho graça, eu tenho horror à graça. Isto que digo é a verdade pura e última. Um dia, quando todos os livros forem queimados por inúteis, há de haver alguém, pode ser que tenor, e talvez italiano, que ensine esta verdade aos homens. Tudo é música, meu amigo. No princípio era o dó, e o dó fez-se ré etc. Este cálix (e enchia-o novamente), este cálix é um breve estribilho. Não se ouve? Também não se ouve o pau nem a pedra, mas tudo cabe na mesma ópera...
domingo, 11 de janeiro de 2009
Beirut - Elephant Gun (Legendado)
Música de abertura do seriado "Capitu". Clipe bem bonitinho. Vontade estranha de chorar!
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Litlle Joy
Bem antes do lançamento do disco, os rumores de que a parceria de Rodrigo Amarante, Fabrizio Moretti e Binki Shapiro resultaria numa mistura de Los Hermanos com The Strokes já faziam tremer de ansiedade os desocupados que não passam menos de 10 horas na internet a procura de alguma novidade no mundo da música. Ainda não se sabia muito sobre a sonoridade do disco e a galera já aprovava. O raciocínio era: "Los Hermanos com Strokes? Não pode dar errado!" Acontece que, tão logo saiu o disco em Novembro do ano passado, pôde-se perceber que Little Joy não tem nada a ver uma suposta fusão entre as duas bandas. Quem ouve com atenção a banda carioca sabe que as composições do R. Amarante e as do M. Camelo diferem entre si. O invólucro "loshermânico" não afeta a individualidade de cada uma. E isso fica claro agora que a banda está "dando um tempo" e que se pode apreciar separadamente os trabalhos solos do Rodrigo Barba na bateria do Canastra, do M. Camelo no disco solo "Sou" e do R. Amarante na "Little Joy".
Eu estava bem muito atrás desse disco. Queria ouvir integralmente todas as faixas. Não me contentava com os 25 segundos que a Amazon disponibilizava só pra cutucar anseio consumista. Agora que o tenho, disponibilizo para quem inadvertidamente passar por acaso por este humilde e gratuito espaço virtual.
O disco está uma belezinha. As músicas são muito bonitinhas e gostosinhas de ouvir. Dá um sentimento de nostalgia danada. O triste é que dura pouco: passa um tiquinho só dos 30 minutos. Mas é bom pra ouvir enquanto se toma banho, lava a louça ou arruma as gavetas do quarto.
Curto e memorável. O que me remete a meus bons e esquecidos discos de punk rock.
Eu estava bem muito atrás desse disco. Queria ouvir integralmente todas as faixas. Não me contentava com os 25 segundos que a Amazon disponibilizava só pra cutucar anseio consumista. Agora que o tenho, disponibilizo para quem inadvertidamente passar por acaso por este humilde e gratuito espaço virtual.
O disco está uma belezinha. As músicas são muito bonitinhas e gostosinhas de ouvir. Dá um sentimento de nostalgia danada. O triste é que dura pouco: passa um tiquinho só dos 30 minutos. Mas é bom pra ouvir enquanto se toma banho, lava a louça ou arruma as gavetas do quarto.
Curto e memorável. O que me remete a meus bons e esquecidos discos de punk rock.
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